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sábado, 10 de agosto de 2013

BARROCO TROPICAL

              
            O debate entre um padre, um umbandista, um ateu e o surreal Silas Malafaia no programa “Na moral” do Pedro Bial lembrou-me o título de um livro do Eduardo Agualuza: “barroco tropical”.  A última vez que vi algo desse tipo foi no programa de rádio do Geraldo Freire, uma versão menos elaborada de Samir Abou Hana. 
                Chamei esse debate de “barroco tropical” não porque o livro do Agualuza tenha qualquer coisa a ver com o que se debateu no programa do Bial, mas é que não encontrei um título mais apropriado. Barroco por causa da irregularidade e do caráter amorfo da coisa e tropical por causa do cenário, o Brasil.
                Lucidez só se viu muito poucas vezes, geralmente na fala do representante da umbanda que parecia de posse de um bom conhecimento histórico e munido de todo o linguajar politicamente correto dos que conhecem o conceito de cidadania. Aliás, aparentando muita tranquilidade e equilíbrio, o dito líder religioso mostrou-se bastante educado.
                Quanto ao debatedor ateu (que eu não me lembro do nome) parecia uma cópia pálida, tímida e terceiro-mundista do Richard Dawkins. O seu ponto fraco era a mesmice dos antigos argumentos racionalistas misturada a uma paráfrase barata e pouco criativa do documentário Zeitgeiste adaptada para a TV.
                Não sei exatamente o porquê desses ateus de quinta categoria insistir tanto em bater sempre na mesma tecla sensacionalista que acusa a religião de TODOS os males do mundo. Calma amigos céticos, a religião só foi culpada de uma parte dos males; a outra metade foi resultado da colaboração bem organizada entre socialistas (ateus) e nazi-fascitas. KKKK.
                No que diz respeito ao padre, tive pena dele, pareceu-me culto, mas incapaz de explicar o inexplicável uma vez que o passado violento da igreja católica e o seu presente dogmático e intransigente não lhe permitiram fazer algo melhor. Melhor seria que o referido vigário ficasse na sua paróquia ouvindo as confissões de pecados agora já tão raras.
                Mas a “estrela” maior do debate foi mesmo o colérico pastor e milionário Silas Malafaia, um dos mais bem colocados na lista dos ricos da Forbes. Aliás, o Silas Malafaia sempre me surpreende com o seu jeito nervoso, contraditório e pouco consistente de expressar as suas ideias. Malafaia é um fanfarrão!
                Rebatendo as acusações do debatedor ateu que dizia que os evangélicos vendem o céu aos miseráveis com a sua teologia da prosperidade, disse que, ao contrário do que afirmou o ateu, a igreja não vende nada a ninguém. Nesse momento eu tive vontade de rir porque me lembrei do seu programa na TV onde ele gasta 80% do tempo vendendo coisas.
                Em outro momento do debate, quando se falava em retirar cruzes de espaços públicos, Malafaia afirmou de forma dissimulada e sofismática que os evangélicos não tinham nenhum “símbolo externo” de fé quando na verdade quem conhece os costumes da igreja protestante sabe que a própria Bíblia virou um “símbolo externo” dos crentes. As roupas exóticas e o evangeliquês também!
                No programa se falou de vários mitos como o Estado laico e o crescimento da igreja evangélica no Brasil. Sobre o Estado laico, instituído no Brasil desde a proclamação da república em 1889, não entendo porque continuamos tendo feriados católicos quando deveriam ser cívicos.
                Quanto ao crescimento da igreja evangélica, o que se disse é que os evangélicos já são 22% da população e até 2020 seriam a metade dos brasileiros. Esse é outro conto de fada, “história para boi dormir” uma vez que o crescimento do número de evangélicos nominais nada tem a ver com o real crescimento da igreja institucional que está falindo.
                Enfim, o programa do Bial foi um tipo mais  bem elaborado do “esquenta” da Regina Casé, um verdadeiro “Barroco tropical”, uma simbiose multiculturalista e autofágica da religião brasileira. “Na moral”, ninguém merece!

André Pessoa
                                                                                              

4 comentários:

  1. Professor, não consegui bem entender o que o senhor disse em relação ao ateu, se é fato que a religião é um dos males de vários séculos, por que você não concorda com isso?!

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  2. Leticia, recomendo que vc leia os outros posts de Andre, neles vc vai encontrar muitas explicações e razões para isso.

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  3. Não sei depois de quanto tempo, mas acabei de assistir ao programa. Na moral, pensei que fosse encontrar alguma coisa nova, mas o que eu vi foi a mesmice que assisto todos os dias na tv, na rua e em todos os lugares onde os aproveitadores de Cristo estão. Já tinha lido esse post antes, voltei para ler mais uma vez e agora pude entender com mais clareza, principalmente o "símbolo externo" citado não só nesse post como em outros anteriores,ex: "A Bíblia a serviço das igrejas". Achei fantástico o convite apresentado ao Silas, naquele momento ele esqueceu de todas as suas estatísticas e passagens bíblicas, aliás estatística é uma coisa que os norte-americanos (EUA, país mais protestante do mundo) adoram. Sem mais delongas, parabéns André por mais um bom texto, fico orgulhoso por ter sido seu aluno um dia.

    Att, Jonathan Otílio

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  4. eu assisti o programa e gostei. acho muito legal essa iniciativa da mídia abrir espaço para os evangélicos, sem olhar a quem e, apesar de discordar de 90% do texto, achei interessante ler e conhecer um ponto de vista diferente, porém não vai fazer diferença no seguimento evangélico que continua a crescer independente das adversidades que surgem no caminho.

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