BARROCO TROPICAL
O debate entre
um padre, um umbandista, um ateu e o surreal Silas Malafaia no programa “Na
moral” do Pedro Bial lembrou-me o título de um livro do Eduardo Agualuza:
“barroco tropical”. A última vez que vi
algo desse tipo foi no programa de rádio do Geraldo Freire, uma versão menos
elaborada de Samir Abou Hana.
Chamei
esse debate de “barroco tropical” não porque o livro do Agualuza tenha qualquer
coisa a ver com o que se debateu no programa do Bial, mas é que não encontrei
um título mais apropriado. Barroco por causa da irregularidade e do caráter
amorfo da coisa e tropical por causa do cenário, o Brasil.
Lucidez
só se viu muito poucas vezes, geralmente na fala do representante da umbanda
que parecia de posse de um bom conhecimento histórico e munido de todo o
linguajar politicamente correto dos que conhecem o conceito de cidadania. Aliás,
aparentando muita tranquilidade e equilíbrio, o dito líder religioso mostrou-se
bastante educado.
Quanto
ao debatedor ateu (que eu não me lembro do nome) parecia uma cópia pálida,
tímida e terceiro-mundista do Richard Dawkins. O seu ponto fraco era a mesmice
dos antigos argumentos racionalistas misturada a uma paráfrase barata e pouco
criativa do documentário Zeitgeiste adaptada para a TV.
Não
sei exatamente o porquê desses ateus de quinta categoria insistir tanto em
bater sempre na mesma tecla sensacionalista que acusa a religião de TODOS os
males do mundo. Calma amigos céticos, a religião só foi culpada de uma parte
dos males; a outra metade foi resultado da colaboração bem organizada entre socialistas
(ateus) e nazi-fascitas. KKKK.
No
que diz respeito ao padre, tive pena dele, pareceu-me culto, mas incapaz de
explicar o inexplicável uma vez que o passado violento da igreja católica e o
seu presente dogmático e intransigente não lhe permitiram fazer algo melhor. Melhor
seria que o referido vigário ficasse na sua paróquia ouvindo as confissões de
pecados agora já tão raras.
Mas
a “estrela” maior do debate foi mesmo o colérico pastor e milionário Silas
Malafaia, um dos mais bem colocados na lista dos ricos da Forbes. Aliás, o
Silas Malafaia sempre me surpreende com o seu jeito nervoso, contraditório e
pouco consistente de expressar as suas ideias. Malafaia é um fanfarrão!
Rebatendo
as acusações do debatedor ateu que dizia que os evangélicos vendem o céu aos
miseráveis com a sua teologia da prosperidade, disse que, ao contrário do que
afirmou o ateu, a igreja não vende nada a ninguém. Nesse momento eu tive
vontade de rir porque me lembrei do seu programa na TV onde ele gasta 80% do
tempo vendendo coisas.
Em
outro momento do debate, quando se falava em retirar cruzes de espaços
públicos, Malafaia afirmou de forma dissimulada e sofismática que os evangélicos
não tinham nenhum “símbolo externo” de fé quando na verdade quem conhece os
costumes da igreja protestante sabe que a própria Bíblia virou um “símbolo
externo” dos crentes. As roupas exóticas e o evangeliquês também!
No
programa se falou de vários mitos como o Estado laico e o crescimento da igreja
evangélica no Brasil. Sobre o Estado laico, instituído no Brasil desde a
proclamação da república em 1889, não entendo porque continuamos tendo feriados
católicos quando deveriam ser cívicos.
Quanto
ao crescimento da igreja evangélica, o que se disse é que os evangélicos já são
22% da população e até 2020 seriam a metade dos brasileiros. Esse é outro conto
de fada, “história para boi dormir” uma vez que o crescimento do número de
evangélicos nominais nada tem a ver com o real crescimento da igreja
institucional que está falindo.
Enfim,
o programa do Bial foi um tipo mais bem elaborado
do “esquenta” da Regina Casé, um verdadeiro “Barroco tropical”, uma simbiose
multiculturalista e autofágica da religião brasileira. “Na moral”, ninguém
merece!
André Pessoa
Professor, não consegui bem entender o que o senhor disse em relação ao ateu, se é fato que a religião é um dos males de vários séculos, por que você não concorda com isso?!
ResponderExcluirLeticia, recomendo que vc leia os outros posts de Andre, neles vc vai encontrar muitas explicações e razões para isso.
ResponderExcluirNão sei depois de quanto tempo, mas acabei de assistir ao programa. Na moral, pensei que fosse encontrar alguma coisa nova, mas o que eu vi foi a mesmice que assisto todos os dias na tv, na rua e em todos os lugares onde os aproveitadores de Cristo estão. Já tinha lido esse post antes, voltei para ler mais uma vez e agora pude entender com mais clareza, principalmente o "símbolo externo" citado não só nesse post como em outros anteriores,ex: "A Bíblia a serviço das igrejas". Achei fantástico o convite apresentado ao Silas, naquele momento ele esqueceu de todas as suas estatísticas e passagens bíblicas, aliás estatística é uma coisa que os norte-americanos (EUA, país mais protestante do mundo) adoram. Sem mais delongas, parabéns André por mais um bom texto, fico orgulhoso por ter sido seu aluno um dia.
ResponderExcluirAtt, Jonathan Otílio
eu assisti o programa e gostei. acho muito legal essa iniciativa da mídia abrir espaço para os evangélicos, sem olhar a quem e, apesar de discordar de 90% do texto, achei interessante ler e conhecer um ponto de vista diferente, porém não vai fazer diferença no seguimento evangélico que continua a crescer independente das adversidades que surgem no caminho.
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