SERÁ QUE TUDO É TÃO ENGRAÇADO ASSIM?

               

                       Não é preciso muitas horas de navegação na internet, em especial no face book, para perceber que nas redes sociais tudo vira brincadeira e piada. Não importa se estamos tratando de um vaso sanitário atirado do alto de uma arquibancada e que tira a vida de alguém, de uma chacina ou de um linchamento; tudo é “engraçado”. 

                No mundo virtual não existe assunto sério, apenas motivos para piadas. Os cômicos de plantão vasculham tudo, esquadrinham todas as atitudes particulares, analisam todos os pronunciamentos públicos, dissecam todas as imagens, sempre com o intuito de produzir um humor que tem fama de inteligente, mas que idiotiza as pessoas.

                Para esses “Zé Lezinhos” do mundo virtual, nenhum assunto é importante o suficiente para ser tratado com seriedade. Para eles, os humoristas do face book, temas como política, violência e vida em sociedade servem apenas como insights que inspiram uma nova, vazia e insignificante piada, expressão mais indiscutível de um humor patológico.

                Pois é, humor em demasia é indício de patologia mental (quem ri de tudo não dá a mínima para nada). Os cômicos patológicos do mundo virtual são também indivíduos socialmente passivos: criticam tudo através do seu humor cáustico, mas nada fazem para transformar a realidade e se contentam apenas em ser o bobo da corte.      

                Cheguei à conclusão que o mais novo meio de alienação e dissimulação da realidade é a satirização de tudo. Quando satirizamos tudo indiscriminadamente não chegamos a discutir e refletir sobre nada efetivamente, pelo contrário, nos limitamos a fazer piadas que não passam de mera constatação, mas não promovem transformação.

                Nesse sentido, é correto dizer que o humorista indiscriminado é na verdade um agente perpetuador do status-quo, ou seja, ele contribui com as suas piadas irrelevantes para que as coisas continuem exatamente como estão. Para ele os acontecimentos históricos, políticos e sociais mais relevantes não passam de matéria-prima para produzir baboseiras engraçadinhas.

                Quem ri de tudo acaba não fazendo nada! Quem acha tudo engraçado há muito já esqueceu as utopias. O entretenimento em geral é amigo da passividade e inimigo da transformação social. Enquanto muitos fazem piada com todos os assuntos possíveis e imagináveis e outros tantos riem, tudo continua como sempre foi.

                                                                                                                                            

André Pessoa