NADISMO
No século XIX
um grupo de filósofos europeus anunciou a morte de Deus; a este anúncio
seguiu-se o niilismo, uma espécie de sensação de vazio que na literatura de
Jean-Paul Sartre foi comparada a uma espécie de náusea. Eles expulsaram Deus do
mundo e nada colocaram no lugar!
A
“morte de Deus” gerou um pensamento cáustico, cético, ancorado mais na
linguagem do que na realidade do ser, uma fala para desconstruir, uma “vocação
para a heresia”. Michel Focault, Nietzsche e Sartre são frutos mais ou menos
tardios desse vazio pós-moderno que parece impossível de ser curado.
Contudo,
o vazio niilista que começou no século XIX e se estendeu pelo século XX não se compara
nem de longe com a sensação de vácuo existencial desse início de século XXI que
eu batizei de nadismo. O nadismo é uma sensação resignada do nada; ao contrário
do vazio niilista que quer ser preenchido, o nadismo é a condição final, é a
própria essência da não existência significativa.
Um
indivíduo alcançado pelo vazio niilista procura algo que o complete, seja no
âmbito da religião, do entretenimento ou de qualquer outra coisa, já o nadista
(é assim que eu chamo a pessoa atingida pelo nadismo) não está buscando nada,
apenas subsiste e convive com a sua estrutura oca de sentido sem se preocupar
com isso.
O
nadista é um autômato incapaz de pensamentos e abstrações relevantes, o máximo
que faz é consumir. Aliás, o nadista é um ensimesmado, fechou-se em sua própria
existência e aferrou-se aos seus próprios interesses efêmeros. Ele é semelhante
a um bicho que se contenta apenas com um prato cheio de ração e umas voltinhas
no quarteirão.
O
nadista é um típico representante da sociedade do espetáculo e do consumo, ele
se alimenta dos breves momentos de celebridade que goza nas redes sociais e dos
objetos de marca que adquire com sangue, suor e lágrimas. Os seus projetos são
sempre condicionados pelo materialismo e mesmo se um dia tornar-se célebre e
conhecido mergulhará cada vez mais no nada.
O
nadismo é como um poço fundo no qual uma vez tendo nele mergulhado,
dificilmente será possível voltar a superfície para respirar e manter-se vivo. O
nadismo gera no indivíduo um sutil desinteresse por tudo o que é reflexão e
vincula-o a uma atitude patológica de passividade que só o permite viver o
presente imediato.
Na
verdade, o nadista não é um desinteressado por tudo, apenas interessa-se
superficialmente por todas as coisas sem nunca chegar a conhecer coisa alguma. O
nadista nada tem a dizer sobre o presente e nada a acreditar no futuro; ele é
como um passageiro deprimido que toma um ônibus sem procurar saber o seu
destino.
O
típico nadista é uma aberração psíquica ambulante, é o não-ser de carne e osso,
é o nada sobre duas pernas. O nadismo é pior dos males que pode atingir um ser
humano, ele é irmão do relativismo, é a doença do não sonhar as utopias. Antes tínhamos
os pés fora do chão, agora eles não estão em lugar algum, eles nem mesmo
existem!
André Pessoa
esse nadismo tem cura, é só ir numa sessão espírita de invocação que, quando começar a ficar tenso num instante acaba essa viadage kkkk
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