POVO LADRÃO
Além da voz do
povo não ser a voz de Deus, as ações do povo quando reunido em uma multidão
descontrolada e pervertida materializa o agir do diabo (se é que ele existe).
Aliás, nunca deveríamos esquecer que ser povo é diferente de ser cidadão; ser
povo é ser membro da população enquanto ser cidadão é ter consciência dos seus
direitos e deveres.
Durante
os dois longos dias que durou a greve da Polícia Militar de Pernambuco uma
coisa ficou clara: quem promoveu os saques, a sensação de pânico e a violência
nas ruas foi a população e não o bandido propriamente dito. Quem estava nas
ruas perpetrando crimes não era apenas o ladrão fichado, o meliante habitual,
mas o povo.
Isso
mesmo! Era o povo que estava nas ruas saqueando, o mesmo povo que aparece nos
programas policiais da TV pedindo providência por parte das autoridades e
denunciando a falta de policiamento e segurança em bairros de subúrbio. Talvez
aquele antigo adágio popular que diz que “o povo tem o governo que merece” não
esteja tão errado assim!
Pelo
visto os programas assistenciais do governo federal como o bolsa família não
foram suficiente para conter os ânimos mostrando que políticas
assistencialistas usadas com fins eleitoreiros não resolvem os problemas
sociais. Como diz outra frase do senso comum: “não se deve dar o peixe, mas a
vara para pescar”.
A
impressão que nós temos quando assistimos a um evento como esse é que as
pessoas não praticam ações criminosas coletivas todos os dias por causa das
estruturas repressoras que contém aqueles que se inclinam para o crime. Não
fosse a constante vigilância e o trabalho da polícia, voltaríamos àquilo que Hobbes chamou de “estado
de natureza”.
Ainda
bem que a greve durou apenas dois dias, pois se ela se estendesse por mais uma
semana os próximos alvos depois dos pontos comerciais saqueados seriam as residências
de particulares e aí os cidadãos de bem estariam de fato em apuros.
Mesmo com
soldados atônitos e segurando as armas como se estivessem em uma campanha
militar em época de guerra, o exército brasileiro ajudou a conter a violência
que tomou conta das ruas. A impressão que eu tive é que o povo olhava para os
soldados do exército mais com sentimento de curiosidade do que temor. O povo
teme a polícia e não o exército!
É a polícia
que conhece as vissitudes do povo e os hábitos do bandido, conhecimento que só
vem com a prática, com a permanência nas ruas, nos becos, com as ações
continuadas nos botecos do subúrbio e as incursões nas comunidades pobres
dominadas por traficantes. É preciso está nas ruas e não no interior dos quartéis
para conhecer as mazelas da sociedade.
Outra coisa
interessante quanto às ações dos vândalos saqueadores que protagonizaram as
cenas de violência nos dois dias de greve da polícia é que de acordo com a
lógica do povo é lícito saquear grandes lojas de eletrodomésticos embora não
seja lícito roubar pertences de populares que compõem a multidão. Vi
saqueadores querendo linchar assaltantes; que grande contradição!
Alguém
comentou comigo que as grandes lojas como Carrefour, Extra e Bompreço não foram
saqueadas. De fato, os saques se concentraram nos subúrbios, nos bolsões de
pobreza onde essas grandes lojas não estão. Como sempre acontece no Brasil, os
pequenos pagam a conta. Com algumas exceções, foram os pequenos comerciantes os
mais prejudicados.
Embora eu
estivesse atento principalmente às cenas de violência que se desenrolaram
durante todo o dia de ontem, não pude deixar de perceber o tratamento político
que a situação recebeu do governo federal. A vinda do ministro da justiça José
Eduardo Cardozo que se reuniu com o governador em exercício João Lyra Neto
evidenciou isto.
Segundo as
declarações do ministro, ele recebeu ordens expressas da presidente da república
Dilma Rousseff para dar todo o apoio necessário ao estado de Pernambuco de Eduardo
Campos. Acho que a presidente da república quis mostrar a Eduardo Campos que
não guarda rancor. Não tenho dúvidas de que o candidato do PSB ficou
agradecido. Tudo é falso!
André Pessoa
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