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sexta-feira, 16 de maio de 2014

POVO LADRÃO

                
Além da voz do povo não ser a voz de Deus, as ações do povo quando reunido em uma multidão descontrolada e pervertida materializa o agir do diabo (se é que ele existe). Aliás, nunca deveríamos esquecer que ser povo é diferente de ser cidadão; ser povo é ser membro da população enquanto ser cidadão é ter consciência dos seus direitos e deveres.
                Durante os dois longos dias que durou a greve da Polícia Militar de Pernambuco uma coisa ficou clara: quem promoveu os saques, a sensação de pânico e a violência nas ruas foi a população e não o bandido propriamente dito. Quem estava nas ruas perpetrando crimes não era apenas o ladrão fichado, o meliante habitual, mas o povo.
                Isso mesmo! Era o povo que estava nas ruas saqueando, o mesmo povo que aparece nos programas policiais da TV pedindo providência por parte das autoridades e denunciando a falta de policiamento e segurança em bairros de subúrbio. Talvez aquele antigo adágio popular que diz que “o povo tem o governo que merece” não esteja tão errado assim!
                Pelo visto os programas assistenciais do governo federal como o bolsa família não foram suficiente para conter os ânimos mostrando que políticas assistencialistas usadas com fins eleitoreiros não resolvem os problemas sociais. Como diz outra frase do senso comum: “não se deve dar o peixe, mas a vara para pescar”.
                A impressão que nós temos quando assistimos a um evento como esse é que as pessoas não praticam ações criminosas coletivas todos os dias por causa das estruturas repressoras que contém aqueles que se inclinam para o crime. Não fosse a constante vigilância e o trabalho da polícia,  voltaríamos àquilo que Hobbes chamou de “estado de natureza”.
                Ainda bem que a greve durou apenas dois dias, pois se ela se estendesse por mais uma semana os próximos alvos depois dos pontos comerciais saqueados seriam as residências de particulares e aí os cidadãos de bem estariam de fato em apuros.  
Mesmo com soldados atônitos e segurando as armas como se estivessem em uma campanha militar em época de guerra, o exército brasileiro ajudou a conter a violência que tomou conta das ruas. A impressão que eu tive é que o povo olhava para os soldados do exército mais com sentimento de curiosidade do que temor. O povo teme a polícia e não o exército!
É a polícia que conhece as vissitudes do povo e os hábitos do bandido, conhecimento que só vem com a prática, com a permanência nas ruas, nos becos, com as ações continuadas nos botecos do subúrbio e as incursões nas comunidades pobres dominadas por traficantes. É preciso está nas ruas e não no interior dos quartéis para conhecer as mazelas da sociedade.
Outra coisa interessante quanto às ações dos vândalos saqueadores que protagonizaram as cenas de violência nos dois dias de greve da polícia é que de acordo com a lógica do povo é lícito saquear grandes lojas de eletrodomésticos embora não seja lícito roubar pertences de populares que compõem a multidão. Vi saqueadores querendo linchar assaltantes; que grande contradição!
Alguém comentou comigo que as grandes lojas como Carrefour, Extra e Bompreço não foram saqueadas. De fato, os saques se concentraram nos subúrbios, nos bolsões de pobreza onde essas grandes lojas não estão. Como sempre acontece no Brasil, os pequenos pagam a conta. Com algumas exceções, foram os pequenos comerciantes os mais prejudicados.
Embora eu estivesse atento principalmente às cenas de violência que se desenrolaram durante todo o dia de ontem, não pude deixar de perceber o tratamento político que a situação recebeu do governo federal. A vinda do ministro da justiça José Eduardo Cardozo que se reuniu com o governador em exercício João Lyra Neto evidenciou isto.
Segundo as declarações do ministro, ele recebeu ordens expressas da presidente da república Dilma Rousseff para dar todo o apoio necessário ao estado de Pernambuco de Eduardo Campos. Acho que a presidente da república quis mostrar a Eduardo Campos que não guarda rancor. Não tenho dúvidas de que o  candidato do PSB ficou agradecido. Tudo é falso!
                                                                                                              André Pessoa

                

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