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quinta-feira, 5 de junho de 2014

             
                                
                     METÁFORA MEDICAMENTOSA                         

Você sabe o que é Prolopa, Atenobal ou Carbidol? Nem eu tampouco sabia antes de parar diante do balcão de uma grande farmácia na zona sul do Recife e ler estes nomes nas caixas dos remédios. Fiquei surpreso porque nunca tinha parado para analisar quão complicados são os nomes dos medicamentos, sobretudo, quando vistos uns ao lado dos outros ao mesmo tempo.
Enquanto o farmacêutico se dirigiu ao estoque da farmácia para procurar o medicamento que eu fui comprar, parei por um instante e fiquei a observar aquela pluralidade de nomes estranhos que em geral estão lidados a formula do medicamento ou as doenças que pretendem curar. Pensei então na dificuldade que teria um homem simples e de pouca instrução na farmácia.
Sem a receita (que nem sempre é muito legível, pois os médicos gostam de hieróglifos), o homem de inteligência mediana morreria antes de conseguir pronunciar o nome do remédio que o curaria. A única forma de obter o medicamento seria por analogias ou informando logo de saída o mal que se pretende curar.
A minha visita a farmácia e a minha estranheza diante dos nomes igualmente estranhos dos remédios acabaram por me revelar uma bela metáfora: o remédio que cura o homem é de difícil acesso e estranho aos seus olhos. Daí muitos “morrerem” todos os dias sem nunca alcançar a plena saúde.
Soluções fáceis, com raríssimas exceções, não resolvem problemas difíceis. Talvez seja por isso que tanto desconfio dos livros de autoajuda que propagam fórmulas simples e rápidas para enriquecer, ser influente ou ter amigos. A autoajuda está para os desesperados assim como a automedicação está para os doentes.
Uma e outra não resolvem o problema e podem até piorar a situação. Tanto a autoajuda como automedicação peca por subestimar a “doença” e não são eficazes por que são administradas por não especialistas. Da mesma forma que a vizinha da frente que indicou o remédio nada sabe de medicamentos, os autores de autoajuda nada conhecem em profundidade.
De fato, os remédios que curam as doenças são de difícil acesso, caros, têm nomes complicados e precisam ser ministrados por aqueles que os conhecem: médicos e farmacêuticos. O máximo que o chazinho da vovó ou a panacéia da titia fazem é produzir no doente crédulo o efeito placebo. A autoajuda faz o mesmo!
Para ser mais sincero ainda, começando a entrar na segunda e última fase daminha vida, passei a acreditar que embora algumas doenças possam ser curadas, muitas outras aparecerão e uma em especial não tem cura: a angústia humana. Somos doentes desde o início, nossos atos são egoístas e os nossos objetivos mesquinhos. Pecado?
Dê o nome que quiser a essa inclinação perversa do homem, mas não perca tempo buscando soluções fáceis que nunca darão conta da complexidade do assunto, da mesma forma que o chá de boldo da mamãe não vai curar o problema do seu fígado. O nome do remédio eficaz é bem mais difícil de pronunciar!
André Pessoa


     

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