SÍNDROME DE POLÍCIA DO MUNDO
Acho que foi o
filósofo esloveno Slavoj Zizek quem disse que os Estados Unidos se
transformaram na “polícia” do mundo. Trata-se naturalmente de uma irônica
alusão às interferências político-militares dos americanos em conflitos que
pouco ou quase nada têm que ver com a América.
Sob
o pretexto de promover a democracia, proteger a América (doutrina Monroe) ou
garantir o respeito aos direitos humanos, os EUA fizeram-se “protetores”
perpétuos do planeta e árbitros intransigentes em questões políticas e
econômicas. No século XX, países como Cuba, Panamá, Coréia do Norte e Vietnã já
sentiram de perto o “zelo” e ardor do “cuidado” americano.
Na
verdade, com exceção de algumas poucas situações, os interesses econômicos e
políticos do Tio Sam sempre estiveram acima da doce utopia da pacificação e dos
direitos humanos tão alardeados na mídia e tão esquecidos na vida real. Tanques,
artilharia pesada e bombardeios com aviões não tripulados dificilmente
promoverão a paz!
Aliás,
há aqueles que sugerem (Gore Vidal, por exemplo) que os Estados Unidos da
América não poupariam nem o próprio povo americano para tornar-se hegemônico
como Estado político caso fosse necessário trocar vidas humanas por poder. No
plano de manutenção do status de principal potência do mundo as vidas de civis
não têm muito valor, mesmo que sejam vidas americanas.
Segundo Gore
Vidal o governo americano sabia de um iminente ataque terrorista em 2001, mas teria deixado ele acontecer porque
já dispunha de um plano prévio de invasão do Afeganistão e o atentado de 11 de
setembro seria apenas o pretexto que o governo americano precisava. Mesmo
sentindo um cheirinho de teoria da conspiração no que Gore Vidal afirma, não é
bom subestimar as ambições políticas dos “donos do mundo”.
A síndrome de
polícia do mundo dos americanos é uma doença incurável que hora deixa
transparecer os seus principais sintomas, hora camufla-os por trás de uma
cautela bem pensada. Essa doença americana manifestou-se ultimamente nas
intenções do governo americano de invadir a Síria para impedir o uso de
possíveis armas químicas.
Quem acha que
os EUA ficam apenas espionando os e-mails da Dilma engana-se, eles também
reservam um tempinho para interferir na política Síria e nos planos políticos não
muito humanitários do Bashar Al-Assad que se não for detido vai “fritar, assar”
(Assad assa) a Síria junto com toda a população. O problema nesse caso é só um:
o pretexto.
O pretexto
americano para a possível intervenção armada na Síria é o suposto uso de armas
químicas pelo governo sírio contra populações civis. Essa quase jurisprudente
acusação que os EUA fazem aos ditadores do Oriente Médio de usar armas químicas,
deixam qualquer um que possua uma inteligência mediana desconfiado, pois traz à
memória a invasão do Iraque e o arsenal químico de Saddan Hussein que nunca foi
encontrado.
Chamam-me à
atenção também os termos usados pelos senhores da guerra americanos para
justificar o injustificável: guerra cirúrgica, ataque localizado e outros
eufemismos do gênero que em nada correspondem à realidade cruel da guerra.
Esses termos vazios de significados usados por presidentes e generais
norte-americanos me parecem algo do tipo “sem querer querendo” (não atacar
atacando, não invadir invadindo).
Por outro
lado, fico pensando como seria o mundo sem a força de uma nação que apesar das
suas arbitrariedades, precariamente consegue manter certo equilíbrio mundial
intervindo em momentos críticos. Mesmo desprezando as produções Hollywoodianas
que pintam os EUA como salvadores do mundo, às vezes nos sentimos mais seguros
com o Tio Sam a nos “proteger” (ruim com eles, pior sem eles!).
A próxima
intervenção policial americana será provavelmente na Síria, isso se a Rússia
não continuar possessa por esse “espírito de Guerra Fria” que insiste em
oprimir a humanidade. Quanto a Bashar Al-Assad, deveria pensar melhor e lembrar
de Saddam Hussein enforcado e Kadafi empalado depois de ter pedido misericórdia
aqueles com quem não foi misericordioso.
André Pessoa
Confesso que estou por dentro de quase todas as notícias do momento sobre a Síria, os EUA, a invasão da "privacidade" dos e-mails da Dilma. Mas ainda não consigo entender (sei que é um pouco claro, mas para mim ainda é confuso) qual é o motivo pelo qual os EUA se "intrometerem" em tudo? É pelo seu poder ser maior em todos os aspectos? Juro que gostaria de entender. Ótimo texto professor!!!!!
ResponderExcluirÓtimo texto, ótimo blog! Parabéns, professor!
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