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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CONTRADIÇÃO

                
           Provavelmente a Assembléia Legislativa de Pernambuco abrirá concurso no primeiro semestre de 2014 para preencher vagas no setor administrativo. Os salários variarão entre 2000 e 6000 R$ e serão pagos a técnicos com curso médio e especialistas portadores de diploma de curso superior.
                O que chama à atenção em um concurso dessa natureza é o grau de exigência para os candidatos que pleitearão as vagas. Serão exigidos dos futuros funcionários, conhecimentos nas áreas de língua portuguesa, lógica, direito, noções de informática, práticas administrativas e redação, informou um especialista em concursos públicos.
                Espera-se que além dos candidatos do Nordeste, uma boa quantidade de concurseiros de outros estados participe do processo seletivo que escolherá os servidores dos nossos tão desacreditados deputados estaduais. Pessoas de todo o Brasil estarão em Pernambuco para tentar através dessa difícil seleção obter o tão sonhado emprego público.
                Comparando o grau de exigência do concurso e a preparação que o candidato deve possuir para ocupar o cargo desejado e as exigências para o próprio parlamento, penso que seria melhor fazer concurso para deputado e eleger funcionários públicos para os cargos administrativos. Não faz sentido algum se exigir tanto de um funcionário comum e tão pouco daqueles que serão legisladores.
                A democracia tem dessas coisas: um especialista em constituição e direito permanece anônimo e subaproveitado nos recônditos de um Estado burocrático, corrupto e ineficiente, enquanto um deputado que não sabe diferenciar a mão direita da esquerda, decide o futuro do estado e da nação. Para ser político no Brasil não precisa ser bem preparado!
                Aliás, se traçarmos uma linha reta descendente do legislativo federal, passando pelo estadual, e chegando ao municipal, perceberemos que quanto mais abaixo, mas despreparado o parlamentar. Já presenciei certas sessões em câmaras municipais que são indizíveis e que nem o mais crédulo dos homens acreditaria no que vi e ouvi por lá.  
                Tive a má sorte (ou seria o exótico privilégio?) de ter morado em frente ao plenário da câmara municipal de uma cidade da região metropolitana do Recife e pude constatar o despreparo, a desinformação e a ignorância personificada na figura de certos vereadores. Alguns não tinham a mínima idéia do que significa Estado de Direito, cidadania, e outros termos afins.
                Muitos candidatos (para não dizer, a maioria) são totalmente despreparados e só foram eleitos porque o eleitorado brasileiro é igualmente despreparado e despolitizado (ignorância gera ignorância). Um país desprovido de educação e formação política não pode produzir outra coisa senão políticos despreparados.
                Estamos à mercê de politiqueiros que conhecem as viscitudes do eleitorado como ninguém, mas que desconhecem tudo aquilo que permitiria a eles compreenderem a essência da política e abandonarem seus projetos pessoais e patrimonialistas perversos em favor do bem do povo. O egoísmo e a corrupção são filhos do cinismo e da ignorância!
                No Brasil, a política tornou-se o meio mais eficaz e o caminho mais curto entre uma vida material humilde e a ostentação e o luxo que os salários generosos dos parlamentares proporcionam aqueles que não passavam de homens pobres e anônimos. No Brasil só existe três possibilidades de enriquecer rapidamente: jogando futebol, traficando drogas ou se tornando político.
                Quando me refiro à ignorância, não penso apenas na falta de informação ou no desconhecimento teórico da ciência política, penso também na cegueira perversa e obstinada que assola uma geração de políticos corrompidos que enriqueceram por causa da miséria de muitos.  As casas luxuosas e os carros importados foram comprados com a miséria alheia!
                No fundo, esses políticos despreparados e corruptos que roubam os cofres públicos são pobres miseráveis que carecem de luz, pois são incapazes de enxergar um palmo a frente dos seus olhos. Mas do que uma geração de corruptos, estamos diante de um geração de miseráveis que continuam pobres em meio ao luxo e a ostentação.

André Pessoa
                                                                                                                                                   

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