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domingo, 29 de setembro de 2013

ROUPAS APERTADAS: UM CRISTIANISMO QUE NÃO SERVE MAIS

                Uma das coisas que se recomendam a uma mãe que está se preparando para ter o primeiro filho é que não compre muitas roupas para o recém-nascido porque os bebês crescem muito rápido e as roupinhas compradas com tanto carinho logo se perdem. O que as mães emocionadas e afetivas não percebem é que a criança logo crescerá e precisará de roupas de outro tamanho.
                Comparo o cristianismo dito evangélico com uma mãe deslumbrada e afetiva que insiste em usar no filho uma roupa que não cabe mais nele. O mundo mudou, as pessoas estão mais instruídas e  a autoridade da igreja e dos líderes religiosos tornou-se bastante contestável por causa de inúmeros escândalos; por esse motivo as “roupas antigas não cabem mais”.
                Os dogmas e o conjunto de regras que formam a moral cristã não fazem mais qualquer sentido no mundo do século XXI. Regras institucionais como não dançar, não consumir bebidas alcoólicas, não se envolver em política, ter obrigação de dar o dízimo, usar roupas compridas e obedecer incondicionalmente aos pastores tornaram-se motivo de chacota por causa da inconsistência dos pressupostos que fundamentam essas práticas.
                Aliás, o discurso religioso dos líderes evangélicos é cada vez mais desprovido de sentido e afastado da realidade do mundo global. O que estamos assistindo agora é o contorcer de um cristianismo moribundo que  se revira no próprio vômito e luta desesperadamente para sobreviver porque sabe que os seus dias estão contados.
                Esta semana ouvi um pastor de uma das maiores igrejas evangélicas do Recife pregando em um programa na TV e reafirmando a partir de uma leitura bíblica equivocada e descontextualizada que os cristãos não deveriam dançar. Ele fez questão de reafirmar esse moralismo ilógico exatamente porque estava usando como base da sua homília um texto que dizia que os israelitas dançaram depois de atravessar o Mar Vermelho.
                Meio sem jeito e querendo explicar o inexplicável, o dito pastor, sem graça e com um sorriso azedo, disse que aqueles que o estavam escutando não deveriam supor que devem dançar porque na Bíblia não há passagem que diga que a igreja primitiva dançou, embora Israel tivesse dançado. Esse é um argumento falacioso e ridículo porque é contraditório e demonstra o despreparo desses líderes que não passam de moralistas e analfabetos teológicos em sua maioria.
                É preciso explicar algumas coisas antes de continuar. O texto que o referido pregador estava utilizando no seu sermão contava um fato ligado à história do povo de Israel que costumava dançar depois dos triunfos nas guerras ou em outras conquistas como foi a travessia do Mar Vermelho. Quanto ao que ele chamou de igreja primitiva, trata-se da igreja cristã formada pelos discípulos e apóstolos que viveram na época de Jesus.
                O que está por trás do argumento moralista desse pouco preparado pastor é a idéia de que o modelo moral de usos e costumes para os cristãos atuais é a igreja da época de Jesus e não a comunidade de Israel como retratada no Antigo Testamento usado por ele na pregação. Apesar disso, os pastores usam o Antigo Testamento para exortarem os fiéis a dar o dízimo e a adotar certas práticas que estão ligadas a comunidade israelita antiga e não a igreja primitiva.
                Em suma: a Bíblia é usada por esses pregadores de forma seletiva e tendenciosa, ou seja, eles é que escolhem o que os cristãos pouco informados e submissos que respeitam seus líderes com medo de ofender a Deus deverão fazer ou deixar de fazer. Quando o assunto é dar oferta, dízimo ou contribuir de alguma forma na igreja, o Antigo Testamento é válido como regra, mas se o assunto for liberdade individual o Antigo Testamento não vale.
                 A principal arma de líderes religiosos como este que menciono aqui no meu texto é a boa fé e o medo dos cristãos que se submetem a essas mentiras institucionais com medo de ir contra esses pretensos “ungidos do Senhor”. Alguém deveria ter perguntado ao dito pastor que pregou contra a dança porque ele estava usando paletó já que os primeiros cristãos não o usavam e o modelo cristão é a igreja primitiva.
                Comparo o cristianismo do mundo atual com a mãe que usei como metáfora no início do texto: ele quer fazer os cristãos usarem uma “roupa apertada” que já não cabe mais porque o mundo mudou. A verdade é que aquilo que alguns chamam equivocadamente de mandamentos de Deus não passa de moralismo institucional desprovido de legitimidade bíblica e que não faz mais sentido nos dias atuais.
                Os dogmas cristãos, os seus usos e costumes, os seus postulados hermenêuticos e a fé como pregada nas igrejas em sua maior parte deixaram a muito de fazer sentido. O exclusivismo protestante que transforma os cristãos em “ilhas” vai de encontro ao mundo globalizado que tem como fundamento o inclusivismo. Afinal de contas, você vai continuar usando roupas apertadas?
                                                                                                                                  André Pessoa
                 

                

2 comentários:

  1. Professor eu sempre tive uma dúvida. O Decálogo de Lênin de fato é verdadeiro? Remete a sua autoria? Fico no aguardo de sua resposta.

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  2. Adorei o texto. Esses fatos, dentre muitos outros já acontecidos, só me fazem a deixar de acreditar em qualquer coisa que venham pregar para mim, acho que a religião e os princípios dogmáticos acabam se tornando uma espécie de brincadeira na mão desses pastores, fazendo a frase de karl marx totalmente verdadeira, "a religião é o ópio do povo". :)

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