FAVELAS QUE VALEM OURO
Um fato que
tem atraído bastante a minha atenção nos últimos meses é a transformação de
favelas do Rio de Janeiro em pontos turísticos. Acredite se quiser, é possível
fazer um tour por alguns morros do Rio e dá uma olhadinha na paisagem enquanto
se anda de teleférico.
O lugar de
horror e de violência está sendo transformado em empreendimento capitalista e
as balas perdidas vão se tornando cada vez mais raras enquanto as UPPs se
tornam bastante comuns. Foi só depois de ler o esplêndido texto intitulado “favelas pacificadas para a nova burguesia
brasileira” que entendi melhor o fenômeno.
O texto
acima citado é de Jacques Denis e compõe a edição de janeiro de 2013 do Le
Monde Diplomatique. No artigo em questão, Denis, citando a revista Veja, diz
que os preços aumentaram 28% no entorno das UPPs do Morro pacificado do
Vidigal. É a pacificação gerando lucro!
O mesmo
jornalista diz que a pacificação tem como finalidade preparar o caminho para
uma grande regularização imobiliária que facilitará a especulação em uma área
que se tornará promissora. Agora fica mais clara a razão da transformação das
favelas em pontos turísticos e em complexos culturais.
Artistas
famosos, celebridades de todos os quilates e pesquisadores estão fazendo do
morro a sua morada; talvez antevendo a transformação capitalista daquilo que já
foi um dia a “terra de ninguém”. Vai-se o narcotráfico, fica a possibilidade de
exploração comercial!
Além da
óbvia especulação imobiliária que está sendo planejada pelas mentes
clarividentes do mundo do capital, há uma coisa que me incomoda: existe de fato
um verdadeiro potencial turístico em uma favela? Penso que só admitindo que a
miséria e o crescimento urbano desordenado sejam atraentes se diria que sim.
Outra
pergunta: o que vai procurar um turista em um morro do Rio de Janeiro? Não me
entendam mal. Claro que eu sei que ali existem pessoas boas, honestas e que
produzem cultura. Mas será que isso é suficiente para atrair turistas que se
hospedam em pousadas que em breve serão ladeadas por restaurantes com comida
francesa?
Acredito que
não. Talvez, além da especulação imobiliária e do projeto de modernização do
Rio de Janeiro que atrairá a cobiça dos empresários sobre as favelas, haja outra
razão para a transformação da favela em ponto turístico: Trata-se da
comercialização da memória do crime!
Certamente
não existe um só turista estrangeiro ou brasileiro que ao flutuar por cima do
emaranhado desordenado de ruas e casas dos morros do Rio em um teleférico não
“viaje” no passado e não chegue quase a escutar o estrondar dos tiros de fuzil
que ali já se fizeram ouvir. É isso mesmo!
As favelas
despertarão nos turistas uma memória penetrante e rica em imagens que os fará
viajar no passado violento das comunidades. Às suas mentes sedentas por
experiências-limite e exotismo, virão às operações policiais, a ostentação dos
traficantes e os muitos atos de violência brutal cometidos impunemente.
Nesse sublime momento, a violência
tantas vezes vistas nos noticiários da TV, e agora esteticamente transformada
em entretenimento, reviverá em forma de lembrança. De fato, há no capitalismo
algo de alquimia. Se não fosse assim, tudo o que ele tocasse não viraria ouro!
André Pessoa
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