Arquivo do blog

domingo, 24 de fevereiro de 2013


O JESUS ESPÍRITA DA PAIXÃO DE CRISTO

               
           Todas as tentativas de resgatar a imagem do Jesus histórico só geraram até hoje bizarrices e caricaturas grosseiras. Há algo de irrecuperável na figura histórica de Jesus Cristo que impede qualquer tipo de representação desse notável Galileu que tem atravessado séculos envolto em uma nuvem de mistérios. 
            O Jesus ariano do catolicismo, o Cristo gnóstico dos hippies ou o “homem de branco” das igrejas evangélicas neopentecostais, são caricaturas risíveis. A esse exército de cristos deformados muitos outros ainda serão acrescentados até que a lista se esgote.
            O último com o qual me deparei e que me fez sorrir meio nauseado e reafirmar o meu desprezo por essas imagens medonhas, foi o “Jesus espírita” do comercial da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Nunca vi mais tosco, apesar da tentativa bem intencionada de apresentar um Jesus próximo da realidade.
            Não se apressem em me criticar caros amigos kardecistas, o termo “Jesus espírita” foi só força de expressão. O Cristo do comercial da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é na verdade uma mistura burguesa de baixo candomblé com curandeirismo de quinta categoria.
            A cena que se desenrola no comercial é pitoresca e nauseante ao mesmo tempo. O Jesus em questão coloca as mãos no rosto de um cego, invoca sei lá o quê, e depois de um quase ataque epilético faz um movimento parecido com as performances do Freddie Mercury no Rock in Rio e o cego é milagrosamente curado.
            Nem mesmo o mais inocente dos cristãos de carteirinha se emociona com essa cena patética. Depois de passar anos errando o alvo ao escolher o ator que deveria representar Jesus, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém agora se equivocou nas cenas que reproduzem as narrativas dos evangelhos.
            Primeiro foi o Tiago Lacerda (um Jesus bonitão global), depois outros cristos mais regionais (e menos globais) e agora resolveram retratar uma espécie de curandeiro da caatinga. Achei que isso nunca ia acontecer, mas estou com saudades do José Pimentel!
            Para ser mais justo, devo admitir que talvez a culpa não fosse de quem escreveu o texto, mas da própria impossibilidade de recuperar a figura do Jesus histórico. Perdemos Jesus para sempre e nem mesmo procurando-o atrás de cada arbusto do agreste pernambucano haveremos de encontrá-lo.
            Aliás, minto, não o perdemos, simplesmente nunca o achamos. Os cristos dessas interpretações equivocadas dos evangelhos nada mais são do que uma quimera produzida por mentes imaginosas que na ânsia de transformá-lo em um produto hollywoodiano de consumo, afastam-se dele cada vez mais dele.
            Esse Jesus que faz milagres com jeito de quem está dando um show, nunca existiu no mundo real, mas trata-se apenas da projeção de um delírio alimentado pelo imaginário do senso comum. Não passa de uma mistificação desvinculada do mundo concreto.
            Tudo isso, porém, aponta para algo que está por trás das grandes mistificações: a necessidade que as pessoas possuem de consumirem coisas exóticas e extraordinárias. Esse Cristo circense cheio de trejeitos e performances teatrais nunca pisou no chão do nosso planeta, mas cresce livre no solo fértil das fantasias.  
                                                                                    
André Pessoa
                         
             

Nenhum comentário:

Postar um comentário