ONDE ESTÃO OS PRESÉPIOS?
Esteticamente e
gastronomicamente falando, o natal é a festa que eu mais aprecio. As luzes
multicoloridas, as velas vermelhas sobre as mesas enfeitadas, o peru gigante e
as árvores piscando me enchem o estômago e a vista.
Confesso
que o meu interesse pelo natal é tão materialista e comum como o da maioria das
pessoas. Nada que possa ser chamado de “espírito de natal” chega a me deixar
comovido ou encher-me de uma doce ternura, mas a festa me parece agradável.
Entre
uma guloseima e outra, gosto de olhar fixamente e meio deslumbrado as luzes que
piscam nas árvores enfeitadas (talvez uma paixão de criança). O natal, apesar
da sua exploração mercadológica, sempre me remete a um tipo de alegria
diferente.
Talvez
seja por isso que eu ache pouco compatível embriaguez e música sensual com a
festa de natal. Penso sempre no natal como uma “noite feliz” e não como uma
agitada e descontrolada reunião para bebedeira.
É
possível que tudo o que estou dizendo agora soe aos seus ouvidos como um
discurso insosso e pietista de cristão contristado, mas não se trata disso. É
que eu também, apesar do meu inerente ceticismo, sou em certo sentido fruto de
uma tradição.
Cresci
em uma família que cultivava todas as tradições, sobretudo, a tradição natalina.
Quando criança montei árvores, escutei músicas de natal e comi rabanada como
quase todo mundo; por isso os ecos desse passado não muito distante agora
visitam-me.
Em
natais mais recentes fui à igreja, escutei sermões sobre o nascimento do menino
Jesus (alguns muito ruins por sinal) e li passagens dos evangelhos que falavam
das boas novas anunciadas pelos anjos. Ou seja, fui plasmado pelas tradições!
Por
isso agora escrevo o que escrevo, pois também eu sou fruto da cultura ocidental
cristã que tem no natal a sua mais especial festa do calendário litúrgico. Mas
há uma coisa da qual tenho sentido falta nos últimos natais: os presépios.
Ao
que parece, os presépios estão ficando cada vez mais raros de serem encontrados
nas decorações natalinas. A estrela ainda perdura, as árvores reinam ao lado do
papai Noel, mas os presépios, Deus sabe onde foram parar!
Cada vez mais
as árvores gigantes invadem os interiores movimentados dos shopping-centers
sempre acompanhadas do bom velhinho, mas o menino Jesus, com manjedoura,
jumentinho e tudo foi mandado embora. Onde foram parar os presépios?
Talvez a
pobreza e a humildade que a figura do presépio inspira não combinem com a
riqueza, o consumismo e a ostentação que os cristãos tanto desejam. O cenário
bucólico dos presépios em nada se parece com o ambiente agitado dos grandes
centros urbanos!
De que vale a
figura de um Deus que quis se fazer homem para um mundo no qual os homens
desejam serem deuses? Que mensagem pode transmitir a manjedoura a pessoas que
dariam tudo para morar em mansões? De fato, presépios não fazem mais sentido!
André Pessoa
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