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quarta-feira, 7 de novembro de 2012


O VELHO CRISTIANISMO

              
             Mudar a forma de pensar de pessoas jovens é muito mais fácil do que transformar o pensamento de alguém com a idade mais avançada. As pessoas idosas, com raras exceções, não são suscetíveis ao novo, pois já possuem uma opinião sedimentada pelos anos de experiência e de condicionamento ideológico.
               Em geral, para os mais velhos, a mudança não vale mais a pena porque não seria mais capaz de transformar a situação atual e nem de fazer voltar o precioso tempo que foi passando e revelando as rugas e os cabelos brancos. O tempo faz envelhecer não apenas o corpo, mas também a alma.
É como se em cada pessoa duas velhices estivessem se processando ao mesmo tempo, uma fora e outra dentro. Além dos sinais externos, os internos também vão surgindo e se mostrando aqui e ali, sobretudo, se expressando através da resignação cansada de quem foi vencido pelas lutas diárias e deixou de acreditar.
Comparo o cristianismo a um ancião que agora, em plena velhice, é incapaz de esboçar qualquer reação ao que é novo e que se entregou a decrepitude de antigas posições que embora sejam insustentáveis continuam sendo defendidas com afinco. Como mudar um velho coração? Como transformar em carne um coração sólido como pedra?
Esta semana assisti a um programa na TV no qual alguns “piedosos” e ortodoxos cristãos tentavam em um debate sem debatedores reafirmar a velha, controversa e polêmica doutrina da trindade. Percebi, então, ao vê-los se esforçando para sustentar o insustentável, que os argumentos eram os mesmos de sempre.
Nesse momento o meu pensamento voou nas asas do tempo e levou-me a um passado não muito distante no qual eu mesmo defendi todos aqueles axiomas religiosos que hoje já não fazem mais qualquer sentido para mim. Notei, pela fala dos “respeitáveis teólogos”, que os livros nos quais buscavam as ilustrações e os conceitos eram os mesmos de sempre.
Percebi por trás de cada palavra, de cada gesto, de cada afirmação e até mesmo de cada olhar, uma antiga tradição que é ensinada nas instituições de ensino teológico como sendo “palavra de Deus”. Como é antiquado um Deus preso às convenções; como é frágil essa construção mental-ideológica que dizem ser eterna.
A roupa dos teólogos não mudou; o ar equilibradamente maquiavélico também não. Aliás, pouquíssima coisa mudou desde que o judeu errante chamado Jesus Cristo começou a pronunciar no sopé dos montes e nas margens do Mar da Galiléia uma mensagem que nunca foi entendida pelos circunstantes, mas que mesmo assim foi usada para fundar impérios.
Para falar a verdade, o mal do cristianismo não é a velhice, mas é a decrepitude, a apatia e a obstinação. O mal do cristianismo é a recusa em aceitar que o mundo mudou e que as “roupas” que foram usadas durante séculos já não cabem mais e que por isso mesmo é preciso tecer uma nova túnica a fim de cobrir a feia nudez.
Comparo a teologia e a moral cristã com o lendário Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, cavaleiro errante que por não perceber que o mundo medieval das donzelas e dos heróis havia sucumbido, lutava equivocado contra moinhos de vento julgando combater dragões. Quem será capaz de convencer o cristianismo da sua loucura?
Toda doutrina religiosa, seja ela cristã ou não, com o passar do tempo se institucionaliza, envelhece, caduca e torna-se repetitiva e sem criatividade. Desse momento em diante, nada mais ela produzirá além de velhos ideólogos que usam todos os recursos da oratória para convencer o mundo da necessidade da sua já dispensável existência.
                                                                                                                      André Pessoa        

                

2 comentários:

  1. Excelente análise da atual situação da "Igreja" enquanto instituição, professor. Acredito que, exatamente como no tempo em que foi criada, a Igreja Cristã comete o mesmo erro de investir na ideia de suprimir o pensamento livre. O ato de tentar impedir o cristão de raciocinar leva a duas consequências primárias: 1- quem raciocna quer distância da Igreja, até porque não quer ser manipulado; 2- quem não raciocina nada acrescenta, é manipulado e segue repetindo velhos rituais e tradições fora do nosso tempo. Assim ocorre a decrepitude. Muitas teses da Igreja Cristã estão temática e realisticamente fora do tempo. Isso me lembra a desventura de Galileu Galilei e a sua negação de ser a terra o centro do universo, fato que o levou à Inquisição perante a Igreja Católica. As ideias e os conceitos, por se originarem na dimensão do abstrato, estão sempre sofrendo mudanças com o passar do tempo. Parece que a Igreja Cristã teme a renovação para não abrir mão da tradição. A instituição não percebe, no entanto, uma premissa universal: aquilo que não renova está fadado ao envelhecimento, à decrepitude e, consequentemente, ao desaparecimento.

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  2. Olha andré o cristianismo que vc fala só vai desaparecer quando Jesus voltar e levar a sua igreja, aí sim estaremos na Terra sofrendo as consequências da ira de Deus por conta da desobediência, advindas na grande tribulação, que será um tempo de muito sofrimento aqui na Terra e onde poucas pessoas sobreviverão. Os tempos difíceis serão apenas o começo...

    Outra coisa, só para acrescentar, Deus deu o livre arbítrio para escolhermos se queremos servir a Ele ou ao inimigo, então a escolha é sua, você não é OBRIGADO a servir a Deus, da mesma forma que tem por OBRIGAÇÃO respeitar aqueles que decidiram abrir mão de muita coisa e escolheram servir a Deus. "Se não estamos do outro lado, temos que respeitar quem está".

    Só pra complementar: seguir a Deus e a jesus é renúncia, é sacríficio, abrir mão dos desejos da carne e dos prazeres mundanos para fazer aquilo que é "loucura" aos olhos dos homens. "Loucura" aos olhos de andré pessoa... É como Cristo disse nas Escrituras Sagradas: "Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos". Ou seja, poucos decidem abrir mão de sua vida pobre e mesquinha sem Deus para viver essa "penitência", que não é encarada como tal depois que se serve ao Senhor de coração.

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