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sexta-feira, 25 de março de 2011

UM CACHORRO FERIDO



UM CACHORRO FERIDO

Enquanto me desloco de um local de aula a outro, costumo escutar o rádio. Gosto em especial dos programas de utilidade pública.
Por vezes, mudo a minha rota e fujo ao congestionamento por causa de uma informação recebida através de um programa desse tipo. Eis aí uma das maravilhas da comunicação!
As pessoas ligam para a rádio a fim de denunciar a existência de buracos no asfalto, motivos de engarrafamentos e coisas do gênero. Aliás, problemas dessa natureza são muitos apesar da alta carga tributária a que estamos submetidos.
Nesta quinta-feira, entretanto, um ouvinte de uma rádio que escuto com freqüência ligou para perguntar algo inusitado: “o que fazer para socorrer um cachorro ferido em uma praça na cidade de Paulista?”.
Quando ouvi isto no rádio do meu carro (“meu carro” é força de expressão), subitamente me comovi. Uma terna sensação tomou o meu coração e uma energia que brotou no fundo da minha alma percorreu todo o meu corpo de cima a baixo.
Pensei então: “ainda é possível consertar algumas coisas que julgamos sem conserto. O ser humano, apesar da bomba atômica, ainda é capaz de fazer coisas boas. O meu amigo (chamo-o assim, embora não o conheça) provou-me isso de uma forma muito simples.
Em geral, as nossas preocupações estão voltadas para o nosso próprio bem-estar. Quem liga para um cão ferido? Mas será que não somos nós mesmos como cães feridos a perambular pelas ruas e a perecer nas praças ?
Naquele momento tive vontade de conhecer aquele ouvinte da rádio, apertar-lhe a mão, abraçá-lo e dizer que compartilho da sua preocupação com o cão ferido na praça. Os cães feridos nas praças sempre deveriam unir os homens!
As nossas preocupações não deveriam estar apenas voltadas para nós mesmos, mas para tudo o que é vivo, para tudo aquilo que se move. Onde há movimento, há vida; onde há inércia, há morte!
Aquele animal (animal = que tem alma) é importante para o perfeito ciclo da natureza e conseqüentemente para os seres humanos. Aquele cão ferido também é parte de uma cadeia, é um elo, um componente de algo maior e mais misterioso do que pensamos.
Comovi-me com aquele simples ato, que foi ao mesmo tempo grandioso, porque me lembrei também do meu Bethoven (o meu cão), dos cuidados que ele recebe todos os dias e que todos os animais deveriam receber.
Emocionei-me porque lembrei ainda de como eu torço pelos cães a beira da estrada para se afastarem e não serem atropelados por um veículo em alta velocidade que não os pouparia. Como buzino furiosamente para alertá-los e fazê-los não atravessarem a pista displicentemente.
Depois de tudo isso, me auto-indaguei perguntando: “será que estou ficando velho, bobo e sentimental?” Penso que não. O problema é que durante muito tempo olhei para o lado errado. Além do mais, a cada dia que passa me deleito no que é simples!

André Pessoa

Um comentário:

  1. Que texto lindo André, também tenho um Bethoven e imagino o que sentiste.
    Você me surpreende com seus textos sabia? rsrsrsrs

    Minha opinião, se é que posso tê-la diante do seu comentário “será que estou ficando velho, bobo e sentimental?” Penso que não. O problema é que durante muito tempo olhei para o lado errado. Além do mais, a cada dia que passa me deleito no que é simples! ACREDITO QUE ESSA, É A MANEIRA MAS "FÁCIL" DE SE VIVER.

    Um abraço!

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