A LOUCURA DE ANDY PARSONS

A LOUCURA DE ANDY PARSONS

Perguntei ao meu amigo Andy Parsons onde ele tinha estado nas últimas semanas. Fazia vinte dias que eu não o via.
Ele sorriu e responde maliciosamente: “Estive consultando um psiquiatra. Há dias que não durmo; não conseguia pregar os olhos”.
“E o que disse o médico?” Perguntei antevendo alguma resposta sarcástica. Eu conhecia bem o meu amigo Andy Parsons.
Franzindo um pouco a testa ele respondeu: “Disse que se eu não conseguisse dormir nas próximas horas, surtaria, ficaria louco, iria parar em um hospício”.
“E você?” Perguntei objetivamente. “Bom, no princípio segui as suas instruções e tomei a medicação indicada. Ansiolíticos”.
“Resolveu?”. Indaguei maiêuticamente o meu amigo. “E claro que não”. Retrucou. Depois continuou: “Poucas coisas dão certo comigo”.
“Aquilo que funciona bem com os outros, parece não ter nenhum efeito em mim”. Disse ele. “Bom, e o que você fez?”. Continuei perguntando de forma meio impertinente.
“Depois de tomar os medicamentos durante uma semana, suspendi os remédios que não fizeram efeito algum e resolvi assumir a minha loucura”.
“Como assim?”. Perguntei intrigado. “Lembra que o médico disse que se eu não dormisse ficaria louco? Pois é, resolvi correr o risco e assumir a minha loucura.”
“E o que aconteceu?” Indaguei curioso. “Passei a dormir muito bem”. Disse sorrindo. “Remédio para a alma não vende em farmácia”. Acrescentou ainda brincando.
“Agora eu sou quem eu sempre fui e não aquilo que queriam que eu fosse. Estou livre para ser eu mesmo: um louco”. Disse olhando dentro dos meus olhos.
Percebi que a palavra loucura como usada por meu amigo Andy Parsons, não se referia a um distúrbio psicótico, mas a uma postura existencial, a uma opção filosófica.
Enquanto ainda olhava o meu amigo pensei cá comigo: “Talvez ele tenha feito a opção certa. Os normais são ótimos pais de família e bons maridos, mas são os loucos que constroem o mundo”.
André Pessoa