UMA GERAÇÃO DE VAMPIROS
Desde que os jornais sensacionalistas como a Folha de Pernambuco entraram em circulação a violência e a morte foi banalizada e uma grande multidão de “vampiros” ávida por sangue espalhou-se por todos os lugares. São os novos vampiros urbanos, habitantes da cidade e não da lendária Transilvânia.
Não basta apenas ver pessoas mortas nos jornais e nos filmes da TV, é preciso que os cadáveres estejam mutilados, decepados, esmagados, empalados, mergulhados em poças de sangue, enforcados nas próprias tripas. Quanto maior a desgraça, mais leitores, mais dinheiro ganho.
Lembro de um dia, enquanto eu dava aula, que chamei um aluno à atenção porque ele ria sem parar no fundo da sala, sentado em uma cadeira na última fileira de bancas enquanto olhava um pedaço de papel.
“Por que você está rindo tanto? Alguma coisa muito engraçada? O que tem aí nesse papel?”; perguntei ao rapaz. Com um gesto ele levantou a mão contendo uma página de jornal na qual se via a fotografia de um homem decapitado e a sua cabeça repousando calmamente colocada em cima de um orelhão.
“É que se parece com o tio de um amigo meu”, e o rapaz continuou rindo sem controle algum. Pensei então comigo: “que geração é essa que ri de uma cena tão bizarra? Será que ele tem noção do que é uma vida humana? Acho que não”. O ser humano perdeu todo o seu valor, a vida nada significa.
A verdade é que somos vampiros, filhos de Vlad IV, geração do Conde Drácula, criaturas ávidas por sangue. Os nossos heróis são os homens mais sanguinários (Stallone, Vin Diesel, Capitão Nascimento) e os nossos filmes preferidos os mais violentos. Somos todos vampiros!
Você acha que não? Então me responda: você não se frustrou com a tomada quase sem violência do Morro do Cruzeiro e do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro? Seja sincero, admita, você gostaria de ter visto os traficantes esmagados pelos blindados da Marinha, metralhados impiedosamente, cortados ao meio por armas de grosso calibre não gostaria?
Você também é um vampiro, apesar dessa carinha de gente civilizada, você também deseja beber sangue. Foi a TV que fez isso com você, foi a locadora, foi a globo, foi a internet... “A vida imita o vídeo”.
Sangue, queremos sangue! Não somos muito diferentes dos antigos romanos que se reuniam em grandes multidões nas arquibancadas do coliseu de Roma para ver os gladiadores lutarem até morrerem envoltos em um rio de sangue. Somos uma geração de vampiros, e o pior de tudo: não temos medo de alho!
André Pessoa
Desde que os jornais sensacionalistas como a Folha de Pernambuco entraram em circulação a violência e a morte foi banalizada e uma grande multidão de “vampiros” ávida por sangue espalhou-se por todos os lugares. São os novos vampiros urbanos, habitantes da cidade e não da lendária Transilvânia.
Não basta apenas ver pessoas mortas nos jornais e nos filmes da TV, é preciso que os cadáveres estejam mutilados, decepados, esmagados, empalados, mergulhados em poças de sangue, enforcados nas próprias tripas. Quanto maior a desgraça, mais leitores, mais dinheiro ganho.
Lembro de um dia, enquanto eu dava aula, que chamei um aluno à atenção porque ele ria sem parar no fundo da sala, sentado em uma cadeira na última fileira de bancas enquanto olhava um pedaço de papel.
“Por que você está rindo tanto? Alguma coisa muito engraçada? O que tem aí nesse papel?”; perguntei ao rapaz. Com um gesto ele levantou a mão contendo uma página de jornal na qual se via a fotografia de um homem decapitado e a sua cabeça repousando calmamente colocada em cima de um orelhão.
“É que se parece com o tio de um amigo meu”, e o rapaz continuou rindo sem controle algum. Pensei então comigo: “que geração é essa que ri de uma cena tão bizarra? Será que ele tem noção do que é uma vida humana? Acho que não”. O ser humano perdeu todo o seu valor, a vida nada significa.
A verdade é que somos vampiros, filhos de Vlad IV, geração do Conde Drácula, criaturas ávidas por sangue. Os nossos heróis são os homens mais sanguinários (Stallone, Vin Diesel, Capitão Nascimento) e os nossos filmes preferidos os mais violentos. Somos todos vampiros!
Você acha que não? Então me responda: você não se frustrou com a tomada quase sem violência do Morro do Cruzeiro e do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro? Seja sincero, admita, você gostaria de ter visto os traficantes esmagados pelos blindados da Marinha, metralhados impiedosamente, cortados ao meio por armas de grosso calibre não gostaria?
Você também é um vampiro, apesar dessa carinha de gente civilizada, você também deseja beber sangue. Foi a TV que fez isso com você, foi a locadora, foi a globo, foi a internet... “A vida imita o vídeo”.
Sangue, queremos sangue! Não somos muito diferentes dos antigos romanos que se reuniam em grandes multidões nas arquibancadas do coliseu de Roma para ver os gladiadores lutarem até morrerem envoltos em um rio de sangue. Somos uma geração de vampiros, e o pior de tudo: não temos medo de alho!
André Pessoa
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