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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

AH, COMO EU AMAVA...



AH, COMO EU AMAVA...


A última vez que nos falamos ela estava cabisbaixa e com os olhos marejados de lágrimas enquanto era consolada por uma amiga. Falava baixinho, grunhia e soluçava entristecida.
Dizia a sua companheira que não havia pior sensação do que perder aquilo que amamos, sobretudo quando já nos acostumamos com a companhia do objeto do nosso amor. As perdas sempre doem muito, afirmava.
Lembrava chorando do primeiro dia juntos, da emoção inenarrável que experimentou quando o viu pela primeira vez. Lembrou também do seu brilho e da forma como ela resolveu preservá-lo cuidando dele diligentemente.
Ele tinha alguns defeitos, ela admitiu enquanto dirigia-se à amiga. Entretanto, o importante mesmo é que quando eu precisava dele, ele sempre me servia, não me deixava na mão.
Era nos momentos em que nos separávamos por algum motivo que eu percebia o quanto precisava dele. Pra falar a verdade, depois de algum tempo eu já não conseguia mais sair sem ele.
Às vezes eu me perguntava se não estava me tornando muito dependente dele, mas o fato era que sem ele o mundo não fazia sentido algum e eu me sentia desconectada da realidade.
Com o tempo fui ficando também ciumenta. Não admitia que ninguém se aproximasse dele, queria ele só para mim, só eu deveria usufruí-lo. Estava mesmo ficando meio paranóica.
Pra ser sincera, reconheço que nem sempre ele estava como eu queria encontrá-lo. Às vezes ficava fraco, interrompendo as conversas, apagando mesmo. Quando isso acontecia, eu fazia o que era preciso: dava-lhe uma boa carga...entende?
Embora eu soubesse da existência de outros iguais a ele e que ele não era o único, considerava-o especial. Eu estava realmente ligada a ele, disse a garota à sua amiga.
Às vezes ele silenciava, não emitia som algum, apenas tremia. Mas isso era o suficiente para chamar à minha atenção.
Por tudo isso e muito mais, continuou, apeguei-me demasiadamente a ele e já não saía nem que fosse para ir à padaria sem carregá-lo comigo no bolso, isto até ontem, o dia em que foi roubado. Ah, minha amiga, como eu amava o meu celular.

André Pessoa

Um comentário:

  1. Você é ótimo... acredita que só percebi que era do celuar que você estava falando no meio do texto?rsssrsrsrs muito bom!! serve para reflexão. Qual importância devemos dar de fato a determinados sentimentos?

    Abraço;
    Ana

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