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domingo, 18 de abril de 2010

QUEM É VOCÊ?



QUEM É VOCÊ?


Só agora, aos 42 anos de idade, começo a descobrir quem de fato eu sou e pretendo gastar o resto dos meus dias, que já não são tantos, aperfeiçoando o projeto inacabado que sou eu.
Descobri que a coisa mais importante na minha existência não é a realização dos meus planos em si, mas eu mesmo. Quando estamos prontos os planos se concretizam, antes disso, nunca. Nada como o momento certo!
Estar pronto, entretanto, não é estar acabado, completo, e sim consciente da razão maior de estar vivo: conquistar a nós mesmos. Nossa grande batalha não acontece lá fora, mas dentro de nós, em nosso interior, lá onde ninguém pode ir.
Vencemos uma luta não quando os nossos salários aumentam ou quando somos aprovados no vestibular, mas quando aceitamos sobriamente o paradoxo que é a vida e as contradições que povoam o nosso ser sem nos achar pior do que os outros por isso.
Não deveríamos tentar entender os seres humanos, inclusive nós mesmos, usando os princípios da lógica aristotélica, pois não chegaríamos a lugar algum. Somos todos textos literários e não fórmulas matemáticas. Somos todos plurisignificantes.
Acabo de descobrir que para me realizar como ser humano eu não posso forçar a minha natureza a ser o que ela não é. Isso nunca funciona; seria violentar a mim mesmo, cometer um crime contra a minha própria integridade.
Ás vezes nós queremos ser o que não somos porque não correspondemos exatamente aos modelos estabelecidos e preferidos pela sociedade ou porque já sofremos tentando ser nós mesmos. Não interessa, querer ser o que não somos nos levaria a sofrimentos ainda maiores.
Eu, por exemplo, não sou um “cara da noite”, das baladas exaustivas, dos ambientes com som muito alto, das festas alucinantes. Pelo contrário, sou professor e como tal preciso de certas condições para me expressar (me saio melhor no barzinho do que no forró).
Percebi que me saio bem quando posso falar e ser ouvido. Minha linguagem é mais composta de palavras do que de gestos, mais alma do que corpo, mais Apolo do que Dionísio (Nietzsche que me perdoe).
Prefiro encontrar com os amigos para ouvir música do que ir ao bloco de carnaval (estou mais para o barroco mineiro do que para o carnaval baiano!).
Só agora descobri também que não sou adepto de nenhuma linha de pensamento, seja ela filosófica ou religiosa.
As convenções, princípios, normas e regras me deixam enfastiado e não me atraem. Sou uma mistura de todas as coisas, mas nenhuma em particular.
Do ponto de vista religioso, eu não sou ateu, muito menos seguidor de uma religião qualquer. Abandonei as religiões quando entendi o verdadeiro sentido da espiritualidade.
Deus sim, religião não. O Cristo sim, o cristianismo não. A devoção sempre, o templo jamais. Templos e altares são prisões nas quais os homens, ávidos por poder, encarceram Deus fazendo-o refém dos seus interesses mesquinhos.
Outra coisa que descobri aos 42 é que, agora parafraseando Renato Russo, “eu não preciso provar nada pra ninguém” e se ainda faço isso (talvez esteja fazendo agora) desejo não fazê-lo.
Às vezes perdemos muito tempo tentando explicar aos outros quem somos e deixamos de viver. Que me importa se alguém não me acha atraente, se não sou unanimidade!
Enfim, só seremos o que de fato devemos ser quando nos aceitarmos tal e qual nós somos. Mesmo que tenhamos que correr riscos ou sofrer. Que assim seja, pois só o caminho que leva a nós mesmos é digno de ser trilhado. Agora me responda: Quem é você?

André Pessoa



2 comentários:

  1. Um ser precário, provisorio e perecível, falível, transitório, transitivo, efêmero fugaz e passageira (também parafraseando, mas sendo Lenine). Talvez iniciar sua "busca" interior sabendo de sua finitude e de sua efemeridade seja um bom passo.

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  2. e aí professor, o que achas de tomar uma cerveja e discutir filosofia alemã existencialista?

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