Arquivo do blog

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A MONTANHA



A MONTANHA



Sinto que sou um assassino, que estou a matar. Não mato com armas (brancas ou de fogo), mas com palavras, com sentenças bem pensadas.
Esse é o meu ofício; para isso nasci: derrubar ídolos, destruir ilusões. Porém, não mato as pessoas, mato as ervas daninhas que crescem nos seus jardins!
Sou então um jardineiro? Talvez sim, e por isso trago comigo uma tesoura de podar, uma grande tesoura de podar. Dói, mas fica bonito depois.
Não tolero palavras muito brandas, elas me enjoam, algo como tomar água morna depois do almoço. Também não gosto dos “deus te abençoe”, “vá em paz”, “durma tranqüilo”, tudo mentira, mero palavreado sem sentido, frases vazias geralmente pronunciadas por pessoas igualmente vazias.
Meu lugar é nas alturas indizíveis, lá onde o ar é rarefeito, onde ninguém arrisca ir (quer vir comigo?). Se quiser, imploro-te, não olhe para cima, a subida é longa e íngreme, você se impressionaria e pararia no meio do caminho.
Porém, uma vez alcançado o cume, nossa ousadia será recompensada com uma linda e indizível vista da paisagem. O mundo visto de cima é privilégio de poucos; vai valer à pena ter escalado a montanha.
André Pessoa

Um comentário:

  1. texto muito lindo. gostei de verdade ! acho que conquistou mais um fã :D

    ResponderExcluir