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quarta-feira, 21 de abril de 2010

UM CÃO NERVOSO



UM CÃO NERVOSO


Quando Bethoven, o nosso cão, chegou à nossa casa, dois dias depois de ter sido encomendado a um amigo veterinário, outro conhecido meu perguntou-me: “Por que você escolheu esta raça?”.
Respondi: “Porque achei bonitinhas as fotos da internet, em especial uma em que um Cocker aparece deitado com a cabeça entre as patas e as orelhas espalhadas pelo chão”.
“Por que você está perguntando isso?”. Indaguei assustado. “Porque esta raça não é a melhor para ser criada em ambientes fechados, especialmente em apartamentos”. Respondeu ele.
“Como assim?”. Perguntei ainda. “O Cocker é uma raça hiperativa, nervosa, alguns cães são epiléticos, têm problema de vista e etc.”. Respondeu o meu amigo quase rindo.
“Bom, nesse caso, disse eu, eu comprei não um cão, mas um usuário do SUS”. Respondi brincando, sarcasticamente, como gosto de fazer. Levar a vida e os relacionamentos muito a sério faz mal para o coração.
De fato, Marley, quero dizer Bethoven, é um cão especial, diferente. A sua principal marca, assim como a de muitas pessoas, particularmente de alguns motoristas que perdem a cabeça no trânsito, é o nervosismo.
Às vezes, ele bate os dentes compulsivamente, como faz alguém com síndrome do pânico. Não me canso de verificar as muitas similaridades entre o comportamento humano e o dos animais.
Dizem que existe “remédio de nervos” para cachorro (não sei se a tarja é preta também!). Uma vez quase dei um lexotan de 6mg a ele. Desisti porque já existe muito dependente de ansiolítico no mundo e eu não quis ser culpado de produzir mais um hipocondríaco.
Água de flor de laranja e chá de camomila não funciona com Bethoven. A “loucura” dele, tal e qual a minha, não pode ser curada com coisa muito leve. O pior louco é aquele que não surtou.
Se eu tivesse que fazer um curso de medicina algum dia, me especializaria em psiquiatria. A mente me fascina, inclusive a dos cães. Quanto à das mulheres é melhor não tentar entender (a palavra que elas mais gostam de usar é CONFUSA).
Algumas mulheres estão confusas, viverão a vida inteira confusas, morrerão confusas e quando chegarem ao céu, terminarão entrando no inferno porque confundirão a placa de entrada. Mas, o meu assunto aqui são os cães e não as mulheres.
Gosto de analisar o comportamento dos animais humanos e não-humanos. Quanto à Bethoven, o remédio para as suas crises nervosas, já percebi, é o carinho.
Quando ele começa a tremer, fico comovido, me aproximo dele e faço-lhe um afago. Geralmente aperto afetivamente as suas orelhas com as duas mãos (é tiro e queda, ele fica logo calminho).
Bethoven é um cão muito grato e sempre me retribui o afeto recebido com afeto ainda maior. Cães sabem recompensar os seus benfeitores; coisa que não acontece com os seres humanos em geral.
Por isso, faço côro com Chiquinha Gonzaga – se não me falha a memória – “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos meus cachorros”. Au, au pra você também!

André Pessoa

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