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quarta-feira, 10 de março de 2010

AS MÚSICAS TÊM ALMA



AS MÚSICAS TÊM ALMA



As músicas têm alma, acredite. Existe algo nelas que vai além da letra, da voz do intérprete e dos próprios instrumentos musicais para manifestar-se a quem as ouve.
A alma, dizem os cristãos, é a parte imaterial do ser. Ela está unida substancialmente ao corpo, mas lhe transcende.
Agostinho acreditava que a alma é responsável pelas emoções, apetites e vontades. Platão, por sua vez, dizia que ela era imortal, sobrevivendo inclusive à morte do corpo.
Eu já desconfiava que as músicas tivessem alma e isso me foi confirmado quando escutei pela primeira vez Empire States of Mind (Jay-z e Alicia Keys) enquanto dirigia a caminho do trabalho.
A música em questão é um rap no melhor estilo Black americano que começa com umas batidas secas e instigantes que me fizeram acordar de uma momentânea e enfadonha letargia.
Empire States of Mind é o tipo de música que ao ouvi-la você é tomado por uma energia poderosa que, entre outras coisas, lhe faz “olhar por cima” os outros e ter certeza de que pode vencer qualquer obstáculo.
Quando ouvi essa música automaticamente desfilaram em minha mente imagens das ruas agitadas de Nova York com os seus arranha-céus, taxis amarelos e prostitutas vestidas escandalosamente esperando os seus clientes sob os letreiros de néon.
Para a minha surpresa, ao traduzir a letra da música do inglês para a língua portuguesa deparei-me exatamente com uma descrição perfeita de todo o cenário que me veio à mente quando a escutei pela primeira vez. As músicas produzem imagens mentais dos temas de que tratam independentemente da compreensão ou não da letra por parte de quem ouve.
A linguagem musical é universal, pode ser entendida por qualquer um em qualquer lugar. Ela atinge igualmente todos os seres humanos sensíveis, independente de onde se encontrem.
Quem escuta “We are the world” não precisa verificar a letra para perceber que se trata de um apelo à filantropia, de um pedido de socorro e ajuda que emana de muitos corações que se unem em favor do próximo.
Da mesma forma, quem escuta “Making Love” do Air Suply percebe, mesmo sem conhecer a língua inglesa, que se trata de uma música ultra-romântica capaz de reproduzir com perfeição uma cena de amor entre um casal apaixonado.
Making Love vai avançando dos tons mais baixos para os mais altos da mesma forma que o contato e as carícias entre os corpos que se tocam vão se intensificando antes do ápice, o orgasmo. Making Love não é uma música, é a reprodução de uma cena.
É impossível escutar, por exemplo, a música Corazón Partió do Alejandro Sanz sem imaginar um cenário caribenho cheio de pessoas vestidas com roupas floridas dançando na praia ao redor de uma fogueira enquanto alguém ao fundo chora a partida do seu amor.
Além do mais, as próprias pessoas se parecem com certas músicas e vice-versa. As pessoas são canções sobre duas pernas que se movimentam de um lugar para o outro.
Uma pessoa do meu convívio disse-me certa vez que um conhecido professor daqui do Recife e que era baixinho e careca lembrava-lhe, não sabia o porquê, uma música regravada por Fagner cujo refrão dizia “quem dera ser um peixe...”.
Outra professora bastante conhecida na cidade, dizia-me a mesma pessoa, é a cara da música Yolanda interpretada tão bem por Chico Buarque de Holanda. As pessoas são canções que tem braços e pernas!
Quanto às garotas de programa, ardentes e sensuais que buscam aventura nas noites quentes do verão recifense, por algum motivo que desconheço, se parecem com a canção “Halo” da badaladíssima Byoncé. As músicas têm alma, acredite!

André Pessoa

Um comentário:

  1. Neil Gaiman diz em Deuses Americanos que cada pessoa tem uma canção. A questão é que algumas não a conhecem ainda.

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