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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

POR QUE O HAITI?



POR QUE O HAITI?


“A tragédia no Haiti parece cruel e incompreensível”. Palavras ditas pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama.
“O povo do Haiti não merecia isso”. Pronunciamento de Lula após o terremoto.
Quando Lula diz que o povo do Haiti “não merecia” o que aconteceu a ele está, com outras palavras, dizendo o mesmo que Obama, isto é, que a tragédia foi cruel.
O que Lula e Obama estão se perguntando é por que com o Haiti? Será que todo o mal que já havia se abatido sobre aquele país (fome, cheia, tufões, violência) não foram suficientes?
A pergunta por trás da pergunta anterior é: Quem é responsável por isso, a natureza? Deus? Outra pergunta por trás da pergunta é: Se Deus existe, por que ele deixa que esse tipo de coisa aconteça?
Os cristãos conservadores responderiam a essa pergunta dizendo que o mal que vem sobre o homem é resultado do próprio pecado do ser humano.
Dizem os teólogos cristãos que após a queda do homem (o pecado original) até mesmo a natureza foi afetada passando a produzir as catástrofes naturais que matam as pessoas.
A essa resposta alguns objetam afirmando que nesse tipo de tragédia morrem até mesmo crianças inocentes e pessoas boas, portanto não poderia ser alguma espécie de castigo contra o pecado do homem vindo da parte de Deus.
As catástrofes naturais não fazem qualquer tipo de diferenciação, nelas morrem ricos e pobres, cristãos e ateus. Aliás, na morte todos se igualam, dizem alguns filósofos.
Não quero neste artigo tentar responder às perguntas formuladas anteriormente. Seria muita pretensão de minha parte.
Tentar responder às perguntas anteriores é aventurar-se na difícil tarefa de discorrer sobre a origem do mal, o mais antigo dos problemas teológicos.
Quanto a mim, mesmo tendo estudado Teologia durante oito anos, prefiro não me arriscar nem me comprometer com respostas simplórias. Aliás, quando se trata de tragédia, a única coisa que devemos fazer é ser solidários, ao invés de fazer discursos longos sobre aquilo que não tem explicação.
Entretanto, uma coisa é possível afirmar: ninguém, nem mesmo o mais santo e consagrado dos homens, está livre de perecer nesse tipo de hecatombe. Esse foi o caso de Zilda Arns, reconhecidamente uma mulher que vivia para ajudar o próximo.
Paradoxalmente a vida está entrelaçada com a morte. Nascemos para morrer (Heideger), o tipo de morte é só um detalhe.
Penso que se revoltar com aquele que chamamos de Deus quando este tipo de coisa acontece é perda de tempo. Se Deus existe, e eu creio que sim, os seus critérios são diferentes dos nossos.
Existe uma grande diferença qualitativa entre o humano e o divino. “Deus é o totalmente outro”, afirmava Karl Barth, teólogo suíço do século XIX.
Não entendemos a tragédia do Haiti da mesma forma que não compreendemos porque uns nascem sãos e outros deficientes, uns ricos e outros miseráveis, uns belos e outros feios.
Acredito que lá no fundo este tipo de acontecimento serve para nos mostrar que somos criaturas frágeis e finitas.
As pessoas morrem quando chega a hora de morrer e este momento é diferente para cada um de nós, por isso deveríamos também aprender a nos preparar para a morte.

André Pessoa

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