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domingo, 20 de dezembro de 2009

AVATAR



AVATAR



Uma aventura ecológica de tirar o fôlego do começo ao fim e que mistura mitologia antiga com tecnologia contemporânea, além de valer 161 milhões de euros, eis o resumo da superprodução Avatar de James Cameron.
Avatar (metamorfose / transformação) mostra de forma brilhante o conflito entre a exploração e destruição capitalista do meio-ambiente e a urgente necessidade de preservação da natureza.
A distante Pandora é o cenário onde o “Povo do Céu” (seres humanos) confronta-se com os místicos e sensitivos na`vis, seguidores de Eywa (a deusa), protetora da natureza e doadora de toda a vida.
O filme é brilhante não apenas pelos cenários que enfatizam a grandiosidade da natureza (tamanho das árvores, alturas absurdas, animais exóticos) e a pequenez dos homens, mas também por ter lançado mão de toda a tecnologia disponível para produzir efeitos especiais em 3D que colocam o telespectador dentro das próprias cenas.
O autor dessa superprodução também usou e abusou dos símbolos contidos nas religiões antigas, na cultura grega e no imaginário cibernético. Em Avatar, tudo é alegoria, ou seja, cada coisa possui um significado oculto que precisa ser decifrado por quem assiste ao filme.
A história gira em torno da Grande Árvore que está no centro do mundo e que é destruída impiedosamente pelas milícias do Povo do Céu. A Grande Árvore destruída representa a própria natureza depredada pelos homens.
A Grande Árvore, é bom não esquecer, aparece nas antigas mitologias, inclusive no livro hebreu do Gênesis ocupando lugar de destaque no jardim do Éden. Iggdrasil é o nome que a cosmologia nórdica deu a essa mesma árvore colossal que ficava no centro do universo e que era uma espécie de eixo que unia os nove mundos.
O filme é o que de melhor existe em termos de mensagem da Nova Era (New Age). A ética planetária e o culto da terra aparecem recheados de uma mística alucinante que se propaga num cenário inimaginável onde tudo tem vida, alma e luz.
As plantas e os animais de Pandora estão vivos, por isso é preciso se conectar com eles antes de usufruir daquilo que eles podem oferecer e fazer uma prece á Grande Deusa depois de abatê-los.
Matar um animal sem um motivo justo é um crime hediondo na longínqua Pandora. diferentemente do que acontece na Terra. Abater qualquer criatura da natureza só é permitido para satisfazer as necessidades essenciais e legítimas dos indivíduos.
Retomando os antigos mitos gregos, o filme mostra também as ilhas flutuantes e suspensas no céu mencionadas por Platão em alguns dos seus escritos e que servem de lugar ideal para a habitação de criaturas aladas de cor verde que em tudo lembram os antigos dragões e quimeras.
A idéia de destino também tem lugar de destaque no filme. Jake Scully é o escolhido da natureza para defender Pandora da invasão exploratória do Povo do Céu de onde ele provém e de quem é representante numa missão exploradora.
Jake é um ex-fuzileiro naval americano que passa para o lado dos na`vis e descobre a sua verdadeira missão que é proteger a natureza. A descoberta de que é mais na`vi do que ser humano faz com que Jake Scully viva momentos de crise documentados por ele mesmo em vídeos.
O apelo humanístico do filme alcança limites indizíveis ao colocar no centro da trama um herói portador de deficiência física que não deixa nada a dever aos grandes moçinhos de Hollywood. Eis aí outro tema de debate no mundo contemporâneo explorado por James Cameron.
A própria natureza se encarrega de enviar ajuda a Jake e aos seus soldados exóticos que montam e voam em criaturas estranhas quando estes estão prestes a perder a batalha para o perverso e sem escrúpulos Povo do Céu.
Isto nos ensina que a natureza violentada impiedosamente responde também as agressões sofridas, em nosso caso, não enviando criaturas exóticas para nos combater, como no filme, mas provocando tufões, desertificação e tsunamis.
Embora o autor do filme fale em menções veladas à guerra do Vietnã, o que me veio à cabeça quando vi os guerreiros na`vis montando grandes feras e cavalgando em meio à floresta com arco e flecha nas mãos foram os antigos confrontos entre colonos americanos e índios na famosa Marcha Para o Oeste.
Aliás, os na`vis e os avatares se parecem um pouco, no estilo, com algumas tribos indígenas do oeste americano no século XIX, embora tenham feições alongadas que lembram também répteis em algum estágio evolutivo intermediário entre aqueles e os seres humanos.
No filme também não poderia deixar de existir uma cena romântica e sensual. Ela acontece quando Jake Scully e Neytirí resolvem se unir e fazer amor no meio de uma floresta exuberante onde as plantas acendem e apagam como fazem os letreiros dos motéis.
Entretanto, o final da história é a única coisa que me parece irreal no filme, pois nele os habitantes de Pandora (defensores da natureza) vencem a batalha final contra o Povo do Céu (seres humanos ávidos de lucro).
Na vida real é possível que isso não aconteça e a que a terra seja destruída pela ganância do homem que depois de acabar com o seu habitat natural viajará até o espaço infinito em busca de outros planetas para pilhar e de outras raças para exterminar.
Não podemos ser muito otimistas quanto ao futuro do nosso planeta quando os chefes das grandes nações resolvem não abrir mão do lucro insano e do poder para continuar destruindo a natureza como ficou claro na conferência sobre o clima em Copenhagen (COP 15 / 2009).
No mais, só nos resta contribuir individualmene para a preservação do planeta, lembrando sempre que o preservando estamos preservando a nossa própria vida que há muito tempo já está por um fio.

André Pessoa


Um comentário:

  1. ASSISTI AO FILME ONTEM E ESTOU ATÉ AGORA EM ÊXTASE!UMA DAS COISAS QUE ME CHAMOU BASTANTE ATENÇÃO FOI QUANDO OS PAIS DE NEYTIRÍ DISSERAM SOBRE O CONTATO MAIOR COM A NATUREZA: ESTE SE DÁ APÓS UNIÃO DE UM HOMEM E UMA MULHER...SEM QUERER SER PRECONCEITUOSA, APENAS REFLETINDO, POR QUE MUITOS AINDA INSISTEM EM IR CONTRA ELA? ( A VEGETAL, MAS PRINCIPALMENTE A HUMANA?)

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