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sábado, 14 de novembro de 2009

VALE A PENA FAZER UMA PRECE?



VALE A PENA FAZER UMA PRECE?


A revista GALILEU do mês de outubro trouxe uma reportagem sobre as idéias do ensaísta norte-americano Sam Harris que estudou filosofia em Stanford e fez um doutorado em neurociência.
Harris é um dos chamados neo-ateístas (novos ateus) e escreveu um livro chamado A Morte da Fé – Religião, Terror e o Futuro da Razão. No seu livro tenta desmantelar as “idéias fantasiosas” da religião, entre elas a eficiência da oração.
Antes de continuar falando na obra de Sam Harris, eu gostaria de voltar dois mil e seiscentos anos no tempo e lembrar o que Sidhartha Gautama, o Buda, disse sobre o mesmo assunto, as preces.
Buda, desiludido com o brahmanismo, afirmou que o fogo é sempre quente e o gelo é sempre frio, as orações, portanto, não vão mudar essas coisas. Parece que o iluminado não simpatizava muito com orações, sobretudo, as mecânicas.
Harris, seguindo um raciocínio parecido com o de Buda diz: “sugiro que um bilhão de cristãos se junte para rezar por um, apenas um, amputado pedindo que o membro perdido volte a crescer”, conclui dizendo que nada acontecerá e que as orações não são eficientes.
Em contrapartida, continua Harris, isso (a regeneração de um membro amputado) ocorre diariamente com as salamandras sem que nenhum pastor reze para que aconteça. Comparação surreal não acham? Digna de Salvador Dali.
Estou entediado, na verdade, acho que vou me matar! Eu não compreendo como argumentos tão desprovidos de sentido podem constar em livros que vendem milhões de cópias em todo o mundo. Já não bastava o Richard Dawkins, agora temos que aturar também o Sam Harris.
O grande problema é que esses filósofos e biólogos “extraordinários” como Harris e Dawkins não sabem nada de teologia, embora insistam em falar de religião. São analfabetos teológicos querendo discorrer sobre assuntos que não dominam.
Perguntem a Harris e Dawkins se conhecem teólogos como Rudolf Bultmann, Karl Barth, Karl Ranner, Emil Brunner, Dietrich Bonhoeffer e Paul Tillich, certamente dirão que nunca leram uma única linha desses homens. No entanto, insistem em querer falar sobre religião.
Harris comete o equívoco de achar que oração é o mesmo que magia. Alguém precisa dizer a esse rapaz que as orações nem sempre objetivam promover intervenções do sobrenatural no mundo natural e nem por isso deixam de ser importantes para a pessoa religiosa.
Quem faz uma prece encontra conforto por que acredita que é ouvido por Deus, independente do Harris acreditar na existência do “cara lá de cima” (para usar a terminologia da Xuxa) ou não. É a paz interior que emana das orações o efeito mais buscado por aqueles que oram e não a “regeneração de membros amputados”.
Não se deve querer resumir a fé das pessoas a uma fórmula aprendida em Stanford. Religião é coisa complexa amigo Harris! Ela está impregnada no ser humano por que este é autotranscendente*.
É melhor você calar a sua boca antes de cometer o mesmo erro que o pai da psicanálise Sigmund Freud cometeu ao dizer que a religião era apenas uma ilusão que desapareceria quando o mundo alcançasse certo estágio de desenvolvimento científico.
Enquanto houver perguntas a serem respondidas haverá sentimento religioso. Como teólogo estou convencido de que a religião nunca desaparece amigo Harris, ela apenas muda de roupa.

André Pessoa

Autotranscendente: Que anseia ir além de si mesmo.

Um comentário:

  1. É, talves por isso insistam em dizer que futebol e religião não se discute. Eu discordo. Se discute sim, apenas não vai se chegar num consenso. Para muitos assuntos não existe uma verdade única.
    ...Sei que alguns dos meus amigos rezam por mim diariamente. Já eu, apesar de me considerar íntima do "cara lá de cima" (tb o chamo assim) não tenho esse habito. Apenas converso com Ele. E sinto que funciona - tanto os meus papos quanto as orações das pessoas queridas. O fato é que ao menos para mim, a vida flui e, dentre outras coisas, atribuo a Ele.

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