Arquivo do blog

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O NADA E O VAZIO



O NADA E O VAZIO


O final do século XIX foi marcado pela atividade dos filósofos da Morte de Deus. A expressão Morte de Deus foi cunhada por Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que se imortalizou com a sua crítica à religião.
Nietzsche era um niilista, isto é, um adepto da descrença absoluta. Entre outras coisas, aboliu os valores cristãos, rejeitou a razão e questionou de forma ácida a ciência do seu tempo.
Mesmo seguindo a linha ateísta de Nietzsche, o filósofo francês Jean-Paul Sartre afirmou que a retirada de Deus do mundo resultou num grande vazio, numa ausência terrível causadora de uma angústia nauseante.
Entretanto, ainda que pareça ousado de minha parte querer corrigir um pensador do quilate de Jean- Paul Sartre, ousarei discordar da sua afirmação de que a retirada de Deus do mundo gerou um vazio.
Acredito que o século XIX, com o seu niilismo, e o século XX, com as incertezas resultantes das duas guerras mundiais, foi apenas o prelúdio de algo pior que começa a se desenhar nos nossos dias.
O final do século XIX e a primeira metade do século XX geraram “apenas” o nada. Quanto ao vazio, é obra do nosso tempo, das ciências mercadológicas, do ultra capitalismo e da superficialidade das relações entre os seres humanos.
O nada é diferente do vazio. O nada não sofre com a ausência, pois ele nunca sentiu a presença.
O vazio sente a ausência e tenta substituir a antiga presença por outras coisas. Como dizia um teólogo desconhecido: “Onde Deus sai, outra coisa entra”.
O nada é suportável porque é um estado natural, quanto ao vazio é produzido pela ação humana, é um estado artificial, insuportável.
O nada não envolve responsabilidade, o vazio é resultado de uma remoção e, portanto, envolve culpa.
O nada é fruto de uma descoberta, o vazio é resultado de uma ação. Portanto, o nada acontece, já o vazio é produzido.
O nada gera angústia, o vazio, saudade. O vazio é como um pai na janela esperando um filho que não vai mais voltar.
O nada nos faz céticos, o vazio nos faz criminosos. A civilização do nada descobriu a sua própria incredulidade, a civilização do vazio resolveu apostatar.

André Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário