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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UM LOUCO QUE NÃO SURTOU



UM LOUCO QUE NÃO SURTOU


Existem dois tipos de louco: aqueles que surtam e os que não surtam. Com os primeiros é mais fácil de lidar, já com o segundo tipo nem tanto.
Os loucos que surtam são facilmente dominados. Depois de diagnosticada a loucura, são geralmente postos em camisas de força, medicados e tirados de circulação.
Quanto ao segundo tipo de louco (o que não surta) só são parados depois terem causado uma série de danos à humanidade.
A loucura é a degeneração das idéias mais do que das atitudes. Entretanto, a forma que usamos para diagnosticar a loucura se limita a detecção de ações insanas.
Louco é quem rasga dinheiro, come os próprios excrementos e joga pedra na lua. Contudo, às vezes, os loucos estão sóbrios, escondendo-se por trás de paletós, bem instalados em gabinetes e até mesmo conduzindo uma grande nação.
Um bom exemplo de um louco que não surtou foi o imprevisível Adolf Hitler. A personalidade insana do füher foi sendo construída passo a passo.
A loucura de Hitler foi o resultado de uma longa e dolorosa despersonalização. Nele, a infância difícil, a pobreza e a rejeição foram se misturando até formar o caráter doentio que queria dominar o mundo.
Em certo momento de sua infância não chorava mais com as surras que levava do pai. Contava as palmadas pacientemente e depois se vangloriava do seu feito heróico perante a sua mãe.
A morte da mãe, única pessoa por quem nutria alguma admiração, levou-o a uma experiência limite. A solidão e a sensação de desamparo fecharam-no por dentro, solidificaram o seu coração, blindaram a sua alma, fizeram dele um tanque de guerra humano.
Personalidade estranha que era, via suas ações militares e políticas como o cumprimento das profecias de Nostradamus. Acreditava-se escolhido para instalar um reino milenar universal na terra a partir da Alemanha; uma espécie de missão político-religiosa.
A quem diga que do ponto de vista da sexualidade, Hitler só sentia prazer quando as mulheres defecavam e urinavam em cima dele. Condenou muitos homossexuais à morte, mas o terceiro reich estava repleto deles.
Sua insanidade levou-o ao ponto de decretar uma lei que determinava a morte menos dolorosa das lagostas, entretanto com a sua anuência foram usados fornos crematórios para eliminar milhares de pessoas.
Para quem acredita em destino Hitler é um prato cheio. Ferido gravemente durante a primeira guerra, teve tudo para morrer em combate, mas quis Deus (ou foi o diabo?) que ele não perecesse naquela ocasião.
Depois de chegar ao poder em 1933, Hitler proferira discursos inflamados contra as minorias, sobretudo, judaicas. Implantou a eugenia na Alemanha e sonhou com uma raça pura da qual ele mesmo não era nenhum grande exemplar.
Quando ia discursar nos seus comícios apresentava-se sempre acompanhado de um cão pastor alemão e com um chicote na mão. Suas principais partidárias eram algumas mulheres histéricas que o adoravam como um Deus.
Rebatizava os soldados da sua polícia secreta substituindo-lhes os antigos nomes cristãos por nomes teutônicos. Voltou ao passado e adotou a suástica, antigo símbolo bárbaro solar, como logomarca do nazismo.
Apesar de tudo isso, da loucura incontestável de Hitler e das atrocidades que foram cometidas sob o seu comando, há algo nesse personagem que continua atraindo as pessoas.
Sem dúvida alguma o füher era uma pessoa altamente carismática. Sua presença levava as pessoas a quererem ser comandas por ele, obedecer as suas ordens, sonhar os seus sonhos, ainda que doentios.
Talvez as pessoas vissem materializada em Hitler aquilo que Nietzsche chamou de vontade de potência. Hitler queria ser Deus e as pessoas também queriam se divinizar através dele.
As personalidades carismáticas são exatamente isso: meios através dos quais as massas se realizam, espelhos que refletem todos os anseios humanos, inclusive os mais perversos.
Hitler queria dominar o mundo e submeter os outros mortais. As pessoas continuam sonhando com isso e por esse motivo os movimentos neonazistas continuam vivos e atuantes.
O sonho do louco que não surtou só foi por água abaixo quando as tropas russas entraram em Berlim. Naquele dia toda a história de Hitler passou como um filme em sua cabeça e só então ele perpetrou o único gesto sóbrio de sua vida: matou-se poupando o mundo de sua loucura não declarada.
André Pessoa

Um comentário:

  1. Mas Hitler não era louco, ele era pscicopata. Chamar um pscicopata de louco é um elogio para o primeiro e um insulto ao segundo. Por falar nisso, vc leu "mentes perigosas"?

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