GAMEFICAÇÃO: A VIDA VIRANDO BRINCADEIRA
Foi-se o tempo
em que vídeo-game era coisa apenas de criança. É cada vez maior o número de
adultos que jogam vídeo-game em grupo na internet e levam esse entretenimento a
sério, inclusive discutindo apaixonadamente as características de cada game e
aquilo que é necessário fazer para ser bem-sucedido no jogo.
Já
presenciei em mais de uma ocasião amigos meus discutindo efusivamente as
melhores estratégias para obter uma boa pontuação em alguns desses jogos. É
lugar comum nessas conversas a afirmação de que os jogos estão cada vez mais
realistas e que simulam com precisão o que acontece no mundo concreto.
Tudo
isso é para mim muito esquisito porque eu sou do tempo em que o que havia de
mais sofisticado era um jogo chamado Atari que ainda possuía, acredite se quiser,
cartuchos. Lembro também que joguei muito em casas de games um jogo chamado
Galáctica, uma espécie de batalha interestelar monótona e sem muitos atrativos.
Não
dá para comparar os jogos de minha época de criança e adolescente (35 anos
atrás) com os games sofisticados do mundo de hoje que reproduzem com perfeição
sons e sensações. Um amigo me falou de um novo jogo no qual “você decide da o
caminho a seguir”. Trata-se de um jogo (que eu não sei o nome) onde não há
estágios obrigatórios, mas opções.
Enfim,
todo esse desenvolvimento tecnológico que propiciou a evolução dos games agora
parece estar produzindo outra grande novidade: a gameficação de escolas e
empresas. Gameficar significa usar jogos com a finalidade de incentivar o
aprendizado e a produtividade. É a vida virando “brincadeira”!
Aproveitando
a febre dos vídeo-games e a necessidade quase patológica de se entreter das
pessoas, os especialistas nesse tipo de tecnologia estão aproveitando o bom
momento do mercado para expandir os negócios. Até mesmo alguns importantes
pedagogos têm defendido o uso de jogos na educação de crianças e jovens.
Em
uma empresa os jogos incentivariam a produtividade, a necessidade de buscar
resultados, o desenvolvimento de novas alternativas e o instinto competitivo;
tudo isso, é claro, agrada muito ao mundo capitalista que quer lucrar, mesmo
que seja “brincando”. Isso me faz pensar que nós vivemos em mundo onde será
cada vez mais difícil separar ficção de realidade!
Na
verdade, no mundo da alta tecnologia as pessoas estão “acordadas” e “dormindo”
ao mesmo tempo, despertas e sonhando, conscientes e iludidas, levando as coisas
a sério e brincando simultaneamente. No fundo, no fundo, acredito que a
gameficação é só o primeiro passo para transformar os próprios seres humanos em
meros bonecos que se movem em uma tela de computador!
O
problema da gameficação do mundo é que ela transforma seres humanos em
jogadores e as pessoas em competidores que podem está se esforçando para alcançar
algo que em nada os fará melhores seres humanos. A vida só poder ser
considerada um jogo enquanto metáfora, mas nunca de fato.
Estamos quase atingindo os
limites que nos introduzirão em um novo mundo de formas e aparências sensacionais
e estonteantes que farão os homens viverem sensações inusitadas e artificiais
viciantes. Nesse mundo, porém, embora tudo tenha se transformado em
“brincadeira”, a despersonalização será um problema sério e não coisa de
criança.
Ser for possível, Bom jogo!
André Pessoa
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