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domingo, 7 de julho de 2013

O ESTADO ESTÁ MORTO


O ESTADO ESTÁ MORTO

                Na última segunda-feira levei quase três horas para fazer o percurso que leva do trabalho até a minha casa. Em circunstâncias normais, se é que elas ainda existem, o mesmo trajeto poderia ser feito em 1/3 do tempo que gastei por causa das péssimas condições do trânsito e das estradas esburacadas por onde passo quase todo dia.
                Tentando evitar o trânsito da Avenida Agamenon Magalhães, resolvi em um momento de infeliz inspiração voltar para casa pela BR 101 o que me custou muito estresse e a perda de um tempo precioso que eu poderia ter aproveitado para fazer muitas coisas. Não resta dúvida que a mobilidade urbana tornou-se um problema grave no Brasil.
                Em dado momento da minha volta para casa os carros trafegavam a 15 km por hora em uma pista totalmente deteriorada e intransitável que sequer deveria estar aberta aos veículos. É uma grande vergonha constatar que pagamos tantos impostos e não dispomos das condições mínimas de mobilidade e deslocamento.
                Depois de mais ou menos uma hora e meia de penosa viagem, com o trânsito totalmente travado olhei pela janela e avistei uma grande porção de mata atlântica que se erguia a minha esquerda. Confesso que tive vontade de abrir a porta, descer do carro e sumir dentro da mata.
                Talvez seja melhor voltar à natureza e viver como um animal do que ser massacrado pela vida “civilizada” nos grandes centros urbanos. As grandes metrópoles do Brasil, entre elas o Recife, tornaram-se lugares insuportáveis e insalubres para se viver. Certamente que os bichos vivem melhor do que os homens!
                Além da minha indignação por ter que ser submetido a esse martírio depois de um dia longo e cansativo de trabalho, encheu o meu coração um sentimento de decepção total, pensei, então: fui abandonado pelo Estado que deveria cuidar do meu bem-estar. Servimos apenas para pagar impostos e nada mais.
                Lembrei-me também que o mal estado de conservação das estradas está diretamente ligado à corrupção, ao superfaturamento de obras públicas, aos acordos sinistros entre empreiteiras e órgãos públicos e a péssima qualidade dos materiais usados para pavimentar as rodovias que se dissolvem como açúcar na primeira chuva.
                Enquanto os presidentes do senado e da câmara cortam os céus longe dos mortais se deslocando em jatinhos da FAB, o cidadão brasileiro é massacrado dia após dia em estradas cheias de buracos que vão se decompondo. Ao mesmo tempo em que somos humilhados, uma presidente perdida e equivocada promete coisas que não tem força para cumprir!
                Fomos entregues a nossa própria sorte e o movimento e os protestos que deveriam redimir o Brasil começam a se fragmentar em muitas e egoístas reivindicações e perder força como um todo. O que começou como uma grande e poderosa manifestação de uma nação  está se esvaindo em meio a bombas de efeito moral e spray de pimenta.
                O principal efeito colateral desses protestos que provavelmente não desembocarão em mudanças substanciais é uma espécie de descaso do próprio cidadão no que respeita a necessidade de agir politicamente correto. Ou seja, abandonado pelo Estado, o brasileiro adota uma posição egoísta e não se sente mais identificado com a nação e com o bem comum.
                O motorista mentalmente aniquilado pelo trânsito ultrapassa pelo acostamento e faz manobras perigosas e arriscadas, o contribuinte sufocado pela tributação excessiva vira um sonegador e o trabalhador oprimido não executa a sua função como deveria. Tudo isso, leva-nos ao caos e promove a anarquia. 
                Peço permissão a Nietzsche para concluir esse texto fazendo uma espécie de paródia com uma das suas mais brilhantes frases: “O Estado está morto”. Isso mesmo, o Estado já morreu, podre já está fedendo. Resta-nos agora enterrá-lo e quem sabe esperar pelo nascimento de outro que nos trate como filhos e não como bastardos.
                                                                                                                             André Pessoa

                

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