MAQUIAGEM

                

               Hans Kung, em seu livro intitulado “Teologia a caminho”, falando da teologia no início da modernidade diz: “[...] o que começava como inovação terminava em tradição. [...] então, a tradição se tornava tradicionalismo. Conservar ou restaurar com leves retoques o antigo modelo hermenêutico". Palavras sábias e verdadeiras desse grande teólogo!

                Aliás, a leitura de alguns trechos do referido livro de Hans Kung vieram bem a calhar nessa semana de Jornada Mundial da Juventude e de visita do papa Francisco ao Brasil, um dos poucos redutos onde o catolicismo ainda prospera. Entre reportagens e protestos, quebras de protocolo e análises de vaticanistas, o que vejo é mais do mesmo, mera maquiagem.

                Voltando a frase de Kung citada acima, o que a igreja cristã tem feito ultimamente, seja ela católica ou protestante, é apenas “conservar ou restaurar com leves retoques” a antiga maquiagem. É interessante como a religião tem sido pobre em apresentar uma mensagem contemporânea e os fiéis facilmente enganados com trivialidades!

                Entorpecidos pela TV e pelo emocionalismo próprio do nosso povo, os fiéis acreditam que o papa Francisco é uma espécie de reformador do catolicismo que encarnou o espírito de São Francisco de Assis provavelmente em uma sessão espírita.  Os meus ouvidos se recusam a ouvir e os meus olhos a verem tanta alienação e equívoco juntos.

                Acho engraçado e interessante como os gestos ensaiados com antecedência e as caricaturas religiosas de quinta categoria enganam os incautos. Acreditar que um papa é humilde, reformador e afinado com as causas populares só porque ele carrega a própria mala ao subir no avião é no mínimo hilário!

                Dizer que o papa é um homem do povo só por causa desses gestos bem pensados tão comuns aos populistas é o mesmo que acreditar que os políticos brasileiros se preocupam com o povo só porque eles entram nas favelas e abraçam os pobres durante as campanhas eleitorais. Ser humilde e reformador é bem mais do que isso caros amigos cristãos!

                Cada gesto, cada ato, cada fala, cada beijo em criança, cada homilia do papa Francisco está prevista em uma espécie de script determinado pelas forças operantes no Vaticano que escolheu um pontífice latino-americano como medida de emergência para sanar uma crise insanável. Compreenda amigo: nada é verdadeiro, tudo é falso.  

                Essas mesmas forças da qual eu falo esmagaram Bento XVI fazendo-o, em um gesto de desespero motivado pelas pressões internas, renunciar ao pontificado, algo no mínimo estranho e inusitado. O papa Francisco nada mais é do que um mero detalhe em um plano de redenção de um catolicismo moribundo e ultrapassado.

                Talvez você esteja pensando: o catolicismo está se renovando, muitos jovens do mundo inteiro vieram ao Rio de Janeiro e eles agora cantam Rock gospel. E daí? Nada disso significa mudança de paradigma, mas apenas “retoque de maquiagem”. Aliás, eu já vi esse filme antes dentro da igreja evangélica.

                O que hoje é novidade para o catolicismo (padres carismáticos, bandas religiosas com cara de mundo e etc.) já é comum há muito tempo no protestantismo. Hoje o mundo católico, se encanta com bandas como a “Rosa de Saron” cheia de caras “bonitinhos”, mas isso não é novidade alguma. Bem antes deles, no “planeta evangélico”, já existiam Catedral, Oficina G3, Novo Som e etc.

                “Nada de novo debaixo do sol”, o livro de Eclesiastes é que está com a razão. Daqui a mais algum tempo, o que agora é novidade no catolicismo e que foi antes no protestantismo, vai perder o encanto e o abismo final será maior do que o inicial. Não se muda o mundo querendo manter os antigos fundamentos.

                É preciso “dinamitar” as bases dos antigos paradigmas e colocá-los por terra para que o novo venha à tona. Não se muda a igreja ou qualquer outra instituição apenas “retocando a maquiagem”. É preciso lavar toda a cara, tirar a tinta antiga, usar cores novas, dizer em alto e bom som que o rei está nu.

                                                                                                              André Pessoa