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domingo, 14 de outubro de 2012


EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI


O julgamento do mensalão fez nascer a mais nova celebridade nacional: o ministro do STF, Joaquim Barbosa, uma espécie de “capitão nascimento” das esferas jurídicas diante de quem os corruptos do alto escalão tremem de medo. Como relator do processo, fez aquilo que alguns achavam impossível, condenou José Dirceu e outros considerados “intocáveis”.
A forma dura, direta e enfática do ministro deixou desarmada e perplexa a defesa dos réus e constrangeu até mesmo alguns dos seus colegas que esperavam uma apreciação mais amena dos autos. De origem humilde, mas dono de uma invejável formação acadêmica, o ministro surpreendeu a todos.
A cobertura do processo feita pela televisão contribuiu para a rápida projeção do relator do processo do mensalão que passou de um ilustre desconhecido a uma personalidade midiática do dia para a noite. Há quem veja na atuação de Joaquim Barbosa um marco na história política e jurídica do Brasil.
Alguns colunistas de jornais de grande circulação chamam Joaquim Barbosa de novo “super-herói” brasileiro, e discorrem demoradamente sobre a biografia do ministro ao mesmo tempo em que lembram a origem humilde do mesmo. De artigo em artigo, de sessão em sessão do STF; de elogio em elogio, assim se faz um herói!
Ouvi na rua algumas pessoas conversando sobre o processo do mensalão e uma delas afirmou em alto e bom som: “se o Joaquim Barbosa se candidatar a presidente eu voto nele. Ele é um exemplo de ética e um caçador de corruptos”. Embora concorde com o “exemplo de ética”, não simpatizo muito com o “caçador de corruptos”.
               Penso que o povo brasileiro já teve um número suficiente de “caçadores de corrupto” (foram muitos de Jânio Quadros a Collor) e a experiência com eles foi traumática demais para querermos repeti-la. Ao excelentíssimo ministro basta ser um cumpridor da lei que contribui com o seu trabalho para a implantação de um verdadeiro Estado de Direito.
               Aliás, não entendo porque o ministro Joaquim Barbosa está sendo tão ovacionado se o que ele está fazendo é apenas cumprir o seu papel de membro do judiciário e aplicar a lei da forma como ela deveria ter sido sempre aplicada. Na verdade, o ministro está se destacando porque está sendo o primeiro a fazer o que sempre deveria ser feito.
               Entretanto, como diz o velho e conhecido ditado popular: “em terra de cego quem tem um olho é rei”. Em um país onde os corruptos estão acostumados a formar verdadeiras redes criminosas para desviar dinheiro público e permanecem impunes sem ser incomodados pelas autoridades, um juiz imparcial e sério deve ser comemorado.
               O julgamento do mensalão é um marco histórico e o ministro Joaquim Barbosa está se tornando uma espécie de herói nacional porque é o homem certo na hora certa. A conjuntura está mudando e de agora em diante se o Brasil quiser figurar no cenário mundial como um país sério terá que adotar medidas que já são comuns nos países desenvolvidos.
               De nada adiantaria ao Brasil ser a sexta potência econômica do mundo e ao mesmo tempo sepultar a vergonha e a ética ao se submeter aos desmandos de políticos corruptos que saqueiam o patrimônio público. A partir do momento em que o primeiro “bandido de colarinho branco” for para trás das grades tudo começará a mudar.
                                                                                                                      André Pessoa


                




2 comentários:

  1. Concordo totalmente com as ideias aqui colocadas. É engraçado como o brasileiro tem a mania de tentar "endeusar" os homens que ocupam cargos públicos importantes apenas por cumprirem bem o seu trabalho. É verdade que LOUVADO deve ser TODO aquele homem que, ao cumprir com as suas atribuiões, pensa na coletividade e nos valores sociais. Entretanto, ESSA deveria ser a REGRA, e nunca a EXCEÇÃO.

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  2. É tão dificil comentar esses posts porque eles são simplismente perfeitos!!Aff, nada a acrescentar, muito bom...
    Abs

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