A FEIÚRA DA ZONA METROPOLITANA
Uma zona
metropolitana é formada por uma cidade núcleo e pelas suas cidades adjacentes
que juntas formam um grande aglomerado urbano. Em geral, as zonas
metropolitanas são o resultado de áreas conurbadas nas quais os limites entre
as cidades desapareceram como resultado de um crescimento não planejado.
As
áreas urbanas que surgiram desordenadamente e sem obedecer a qualquer tipo de
parâmetro urbanístico, arquitetônico e paisagístico são um espetáculo horroroso
para os observadores mais atentos. No caso específico da zona metropolitana do
Recife, a feiura chega a chocar e dar náuseas naqueles que são mais sensíveis à
forma como o espaço é ocupado.
No
último domingo, dia das eleições municipais, precisei me deslocar de onde eu
moro até uma das cidades adjacentes que constituem a zona metropolitana do
grande Recife e fiquei perplexo ao constatar quão feia e desorganizada ela é.
Embora eu já tivesse feito várias vezes aquele percurso, desta vez observei o
que havia em volta de mim mais detidamente.
O
que vi foi um conjunto desordenado de ruas estreitas, passagens apertadas e
casas inacabadas que avançavam sobre a via pública desrespeitando toda lei e todo
projeto sóbrio de construção. Completando o cenário caótico, o lixo e o esgoto
a céu aberto faziam da paisagem urbana um horrível cartão postal.
Analisar
detidamente a ocupação espacial da zona metropolitana nos faz concluir que nas
cidades adjacentes do Recife e no próprio perímetro urbano da metrópole as
habitações provavelmente foram surgindo aqui e ali como cogumelos em uma
floresta de ferro, tijolos e cimento. Elas não possuem qualquer relação entre
si e nem formam um todo coerente.
Não
há nexo na maioria das construções individualmente e nem no conjunto delas, o
que faz cada porção da cidade parecer estar em luta com as demais por um espaço
disputado vorazmente centímetro por centímetro. Enquanto isso, dentro das
casas, famílias numerosas vivendo em recintos apertados espremem-se como no
cortiço de Aluízio de Azevedo.
Ao
lado de uma construção feia e inacabada que cresceu para cima fazendo surgir um
ou dois andares por não ter podido se expandir para os lados, uma casinha superaquecida
por um telhado inapropriado e por uma orientação equivocada foi pintada com uma
cor escura. A feiura é forte e agressiva!
O
péssimo aspecto da zona metropolitana torna-se ainda pior por causa da grande
quantidade de pichações que trazem a luz símbolos desconexos e desenhos
complicados que só podem ser compreendidos pelas mentes doentias que os conceberam
nos muros e prédios alheios. Quem responde por essa depredação? Quem deterá os
pichadores?
Em
alguns casos, cemitérios em péssimas condições de conservação foram construídos
bem próximos de conjuntos habitacionais que são atingidos por rajadas
insalubres quando o vento resolve mudar de posição. Dessa forma, os ares vindos
do mundo dos mortos continuam a infectar o mundo dos vivos que não sabe
construir suas cidades.
Andar
de carro ou a pé pelas ruas das cidades que compõem a zona metropolitana é como
mergulhar na própria desordem interior daqueles que edificaram tão
desordenadamente as cidades. Nesse caso, o exterior reflete o interior, o que
está fora reflete o que está dentro!
André Pessoa
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