A REPÚBLICA COMEÇA EM MIM
Teoricamente o
Brasil é uma república federativa composta por um governo central e pelos
estados-membros. O título de República Federativa do Brasil nos foi atribuído
por ocasião da proclamação em 1889 quando um sonolento Deodoro da Fonseca,
influenciado pelas ideias positivistas de Benjamin Constant, depôs a
contragosto o seu amigo particular D. Pedro II.
Apesar
do título, a república propriamente dita ainda está por nascer e enquanto isso não
acontece o país vai se contorcendo por entre as “dores de um longo parto”.
Nunca fomos república, e para constatar isso basta voltar os olhos para o
passado e analisar a nossa história repleta de governantes e políticos
autoritários e patrimonialistas.
Primeiro
veio Deodoro da Fonseca e o fechamento do congresso, depois vieram Floriano
Peixoto (o marechal de ferro), os coronéis e o voto de cabresto, o regime
militar e o autoritarismo expresso nos atos institucionais. Enquanto isso
dormia a república em não se sabe quais berços esplêndidos!
Aliás,
foi somente com a constituição de 1988 que os primeiros passos foram dados em
direção a uma verdadeira república. O direito a greve, a liberdade sindical, o
direito de voto para os analfabetos e a redução do mandato presidencial de 5
para 4 anos foram alguns dos avanços da nossa atual carta magna.
Entretanto,
uma república não resulta apenas da existência de uma constituição que garanta
os direitos individuais e políticos dos cidadãos, ela surge do respeito à res (coisa) pública. Segundo Renato
Janine, em seu livro, A república, a
palavra república não indica quem manda, e sim para que manda.
O
mesmo autor diz ainda: “o poder aqui está
a serviço do bem comum, da coisa coletiva ou pública”. Portanto, em uma
nação verdadeiramente republicana aquilo que é público tem precedência sobre o
que é privado. Em uma verdadeira república, as pessoas sabem que as suas ações
repercutem na coletividade e por isso agem para o bem comum.
Uma
república de verdade só pode ser construída a partir de uma mudança de
paradigma e do abandono das posições egoístas que são alimentadas pela
inexistência de uma educação de qualidade e libertadora. Não se pode construir
uma república se as pessoas continuarem ignorantes e mesquinhas!
Não
podemos ser republicanos e ao mesmo tempo pagar propina a autoridades
corruptas, jogar lixo pela janela do automóvel, estacionar em local proibido e
buzinar loucamente no trânsito. Nesse sentido, a república parece coincidir com
algo mais profundo e existencial: a própria “conversão” do indivíduo.
É
difícil falar de república quando os políticos confundem o público com o
privado, desviam verbas que seriam destinadas à saúde pública e a educação e
assim matam indiretamente centenas de pessoas. Não é possível falar de república
em um país no qual as propagandas políticas que precedem as eleições são cada
vez mais mentirosas e descaradas.
Todos
os dias quando dirijo o meu carro até o trabalho vou pelo caminho sonhando com
o dia em que finalmente a república nascerá. Enquanto isso, passo apressado
pelas ruas sujas e sem policiamento da minha cidade e quando chega à noite e eu
volto para casa exausto depois de mais um dia de trabalho, olho no espelho e
entendo que a república começa em mim.
André Pessoa
Que bom tê-lo de volta.
ResponderExcluirAi, to muito feliz também!!!! já não aguentava mais esperar seus posts e esse, como sempre, nos fazendo aprender muito e refletir sobre nossa "republica", penso exatamente assim também, as pessoas culpam muito as outras e os superiores politicos ( que também tem grande parcela de culpa), mas na verdade tudo começa em nós em todas as nossas ações, estamos cada vez mais descrentes, conformados e alienados em nossa sociedade mas se fizermos nossa parte tudo muda. O que embora pareça uma questão obvia e repetitiva as pessoas simplismente ainda não perecebem e não se dão conta, acham que seu voto não faz a diferença, que o lixo que ela joga no chão não vai poluir... enfim muita coisa e por que não tudo depende de nós. Continue sempre escrevendo professor, saudades...
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