A NOVA TERRA

A NOVA TERRA

Hoje à tarde assisti com certa estranheza o noticiário da TV que anunciou uma rebelião numa unidade de correção para menores: três adolescentes foram mortos e encontrados carbonizados. Não entendo o motivo de tanta violência.

Sinto certa perplexidade todas as vezes que assisto a notícias sobre estupros, mortes violentas, corrupção e guerras. Para mim, tudo isso não faz qualquer sentido e parece aos meus olhos o resultado do equívoco de pessoas loucas e cegas.

O homem que mata o seu semelhante, a empresa de telefonia desonesta, o traficante violento de drogas ou o indivíduo que tendo sido eleito pelo povo aproveita o cargo público para enriquecer ilicitamente não caberão mais no mundo que está por nascer. Eles estão se tornando, ainda que não percebamos, superados.

De alguma forma, a natureza, as consciências individuais e a consciência coletiva estão clamando pela harmonia e pela unidade. A exploração do próximo, a avidez por lucro, a falta de ética, o fundamentalismo religioso e a degradação do meio-ambiente não fazem mais sentido!

Políticos corruptos, policiais violentos, motoristas que dirigem embriagados e sacerdotes maledicentes representam os últimos suspiros de um mundo que está morrendo. Um mundo novo está nascendo dos escombros do antigo e o lixo humano será gradativamente sepultado com o que se foi.

Por algum motivo que eu não sei explicar com clareza, senão recorrendo às perspectivas místicas da nova era, a visão de alguém jogando lixo no chão ou de um motorista irresponsável trafegando em alta velocidade pelo acostamento me enojam. Eles não perceberam ainda a grande transformação em curso.

A ânsia por ter mais, consumir mais e mandar mais também não fazem mais sentido para mim. Sinto-me como um operário comprometido com a construção de um mundo mais justo e de um novo paradigma no qual o ser será mais importante do que o ter.

Outra coisa que tem despertado o meu total desprezo é a religião institucionalizada, essa grande meretriz que foi durante tanto tempo causa e meio da perpetração de muitos males que atingiram o homem em particular e o mundo em geral. Precisamos de sentimento religioso, mas não de religiões.

No momento em que a humanidade atravessa precisamos mais de solidariedade do que de individualismo, precisamos de unidade e não de divisão. Precisamos urgentemente de catalisadores psíquicos que apressem a formação de um novo e universal organismo social a partir de pessoas com a consciência desperta.

Precisamos de pesquisas, de estudos científicos, de arte, de literatura e de mística secularizada. O mundo geme de dores de parto esperando o desabrochar de um novo tempo no qual o cordeiro e o leão comerão juntos como previsto por um antigo profeta.

Os sinais anunciam um novo mundo, não dominado por tiranos e sacerdotes (os dois lados de uma mesma moeda), mas por cientistas e poetas estáticos. A ciência e a espiritualidade ainda andarão juntas e de mãos dadas nos jardins do nosso planeta!

Acho que agora sei por que as cenas de violência e corrupção tanto me enojam. É porque anseio profundamente ver cumprido o que escreveu o visionário Teilhard de Chardin: “Aproxima-se o momento em que o homem da rua compreenderá que há mais poesia num poderoso instrumento destinado a cindir os átomos do que num canhão”.

André Pessoa