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segunda-feira, 11 de julho de 2011

QUANDO NIETZSCHE CHOROU






QUANDO NIETZSCHE CHOROU

O DVD passou cerca de dois meses dentro de minha bolsa até que eu tivesse tempo e oportunidade para assisti-lo. Estou me referindo ao filme “Quando Nietzsche chorou” estrelado por Armand Assant e baseado no romance de mesmo nome do psiquiatra Irvin D. Yalom.
Embora eu tenha gostado do filme e até me emocionado com essa inteligente ficção que promove um encontro que nunca existiu entre o Dr. Breuer (professor de Freud) e o “filósofo da morte de Deus” (Nietzsche), confesso que me decepcionei com o retrato de Nietzshe pintado no filme. Nietzsche chorou, mas não pelos mesmos motivos que fazem a maior parte das pessoas chorarem!
Nietzsche era de outra natureza, tinha outra essência, e o que esse filme interessante, mas equivocado, fez foi colocá-lo no mesmo patamar sentimentalóide das outras pessoas que ele sempre combateu com a sua demolidora filosofia. Nietzsche teria rido desse filme!
A imagem que o filme passa de Nietzsche é aquela muito comum do homem rejeitado por uma mulher e carente de amigos que resolvam os seus problemas existenciais com um patético aperto de mão. Definitivamente o grande filósofo Nietzsche não era essa caricatura humana!
Nietzsche sofreu e se decepcionou como qualquer mortal, mas o seu comportamento incomum, quase doentio, não foi o resultado dessas desilusões, mas a conseqüência de uma sensibilidade aguçada que percebia como ninguém a hipocrisia dos padrões morais de sua época construídos pelo cristianismo. Nietzsche era um homem que “via” (enxergava) andando no meio de muitos “cegos”,
Transformar Nietzsche em um sentimentalista que teve a vida arruinada por uma mulherzinha leviana é demais! Esse filósofo de quem o cristianismo esfarrapado conheceu a força estava habituado a viver nas “alturas” e não se deixaria abater por um capricho meramente humano.
Colocar Nietzsche no mesmo patamar dos seres humanos egoístas e infantis que são destruídos quando os seus desejos vulgares não são atendidos é negar tudo o que ele foi e escreveu. De fato, Nietzsche não foi como deseja o filme, um pobre coitado destruído por uma mulher e carente de uma amizade que lhe desse motivo para existir.
Nietzsche realmente chorou, mas as suas lágrimas foram de outra natureza, ou seja, de sangue. Ele chorou lamentando a mediocridade das relações interpessoais, dos “valores” vazios e da crença em um Deus que requer escravos e não pessoas verdadeiramente livres.
Nietzsche chorou sempre, mas nunca com os olhos e sim com a alma. O choro de Nietzsche não era pelos homens e sim pela condição humana. Nietzsche chorou não apenas por aquilo que os homens eram, mas, sobretudo pelo que eles estavam deixando de ser!
O choro de Nietzsche foi o choro do “profeta” que constata com tristeza a falibilidade dos projetos humanos. Nietzsche chorou e as suas lágrimas caíram sobre o lixo da sociedade de sua época fazendo nascer uma “flor de sangue” cuja consciência coletiva se escandalizou em contemplar.
Nietzsche chorou sim; chorou ao ver o futuro de uma grande ilusão que os homens acalentavam como a maior de todas as verdades. Ele chorou não pelo que perdeu, mas por aquilo que ainda estava por vir. Nietzsche chorou porque viu o futuro!



André Pessoa



2 comentários:

  1. Lindo!

    Eu novamente, professor: Luiz Carlos.
    Não discordo de sua crítica. Pelo contrário.
    Só acho que se o filme fosse fiel aos fatos incomodaria as pessoas de certa forma que elas não se agradariam muito do filme. E é aquela velha história do "ibop". Puseram o clássico: cenas emocionantes, o filósofo (apesar de diferente) igual a todo mundo e uma lição de moral que você leva pra vida toda. Todavia é um bom filme.

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  2. nossa adorei o texto, a historia de Nietzsche é mesmo muito hilaria, mas infelizmente como luiz carlos falou "a verdade dói".

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