CARTA DE UM ASSASSINO
Eu sou professor de hermenêutica, e como tal conheço certas ferramentas que ajudam a interpretar textos, em especial os religiosos. Entretanto, diante da carta de Wellington, jovem de 23 anos que matou as crianças de Realengo, sinto que todas as ferramentas exegéticas são limitadas pela loucura de uma mente doentia e difícil de compreender.
A carta do jovem assassino é como uma colcha de retalhos e mescla elementos meramente psicológicos com insights religiosos que provavelmente se originaram na leitura da Bíblia ou de outro texto sacro.
Na verdade, a carta escrita pelo assassino é como um labirinto e está cheia de reentrâncias enigmáticas que servem para camuflar a loucura contida, mas pronta para explodir num ato de extrema violência.
Wellington pensa que é um ser divino ou pelo menos a serviço de alguma entidade metafísica. Provavelmente Deus ou os “pais” que dormem (espírito dos pais mortos). Perceba que ele começa a sua carta em tom imperativo: “primeiramente deverão...”.
Aqui não se trata de um pedido, mas de uma ordem. Os “impuros” não poderão tocar o seu corpo (que ele julga ser puro e santo) sem usar luvas. As primeiras linhas da carta são escritas em um tipo de linguagem prescritiva ritualística muito comum nos livros religiosos, como por exemplo, nos livros de levíticos e deuteronômio que compõem a Bíblia no Antigo Testamento.
A linguagem religiosa absorvida em literatura sacra se faz sentir em toda a carta através do uso de palavras como “adúltero, fornicador e impuros”. Provavelmente, o jovem e atormentado Wellington potencializou a sua loucura lendo intensamente a Bíblia ou outros textos sacros nos meses posteriores ao crime.
Embora a religião não seja responsável pela loucura das pessoas, em alguns casos ela potencializa uma tendência latente em certos indivíduos propensos por motivos genéticos à insanidade. A religião e as suas muitas prescrições morais confundem a mente daqueles que são patologicamente sensíveis aos seus apelos maniqueístas.
Wellington manifesta muitas faces, é um ser dividido, esquizofrênico, que pensa ser um tipo de Cristo ao pedir que envolvam os eu corpo morto totalmente despido em um lençol branco (símbolo de pureza) que foi preparado de antemão para esse propósito. As palavras lembram-nos automaticamente a cena dos evangelhos acerca da preparação do corpo de Jesus feita por algumas mulheres para o sepultamento.
Agora um pouco menos arrogante e mais envolvido no mundo dos “simples mortais”, Wellington pede para ser sepultado ao lado da mãe no lugar em que ela “dorme” (está sepultada esperando a ressurreição do último dia). A confusão que reina nessa psique atormentada varia do suposto “divino” ao humano com muita facilidade.
O sepultamento ao lado dos pais é outra prática comum no mundo antigo e mencionado com bastante ênfase na Bíblia. Ser sepultado junto à mãe significa estar com ela, se juntar a ela no lugar onde se encontra o que nos leva a crer que a psicose do assassino das crianças de Realengo se exprime numa relação complexa com a mãe falecida.
Mais ou menos na metade da sua carta, Wellington explica que precisará de um fiel que o visite em sua sepultura e peça perdão a Deus pelo que ele fez (“pelo o que eu fiz”). Perceba que ele usa o verbo fazer no passado o que indica que em sua mente doentia o crime já era uma realidade mesmo antes de ter sido cometido.
A oração do fiel em questão serviria para Wellington alcançar o perdão de Deus no dia do juízo final quando “na sua vinda” Jesus o despertará do sono da morte para a eternidade. A necessidade de um fiel para orar por ele indica que a sua mente oscilava entre a certeza de estar cumprindo uma missão sagrada e cometendo um crime hediondo e violento passível de castigo eterno.
Ao que tudo indica, Wellington vê o crime que irá cometer como uma espécie de missão provavelmente relacionada à “purificação” de um mundo e das pessoas que lhe fizeram sofrer. Matar todos aqueles adolescentes é para ele uma forma de se livrar do próprio passado infeliz e atormentador.
No decorrer da carta, Wellington se identifica com os animais, “seres muito desprezados” como ele, e por isso recomenda a doação da sua casa não um parente, mas a uma dessas “instituições pobres, financiadas por pessoas generosas, que cuidam de animais abandonados”. Neste trecho, o possível abandono do convívio humano e a inclinação para os animais denunciam uma patologia em desenvolvimento e o caráter anti-social de Wellington.
O assassino de Realengo termina a sua carta como começou: dando instruções que devem ser cumpridas, caso contrário os “desobedientes automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais” (os espíritos dos pais que dormem, ou seja, que estão mortos).
Enfim, a carta do assassino de Realengo é uma viva expressão dos limites tênues existentes entre o psíquico e o espiritual. Wellington acredita que é o instrumento de alguma força sobrenatural e potente para cumprir uma “missão purificadora” que lá no recôndito mais profundo de sua alma, sabe que é um crime horrendo, mas que ele “precisa” cometer a fim de sentir-se aliviado da grande inquietude que conturba a sua existência grandemente atormentada.
André Pessoa
Discordo apenas da referência feita a origem genética da esquizofrenia. No mais seu texto é uma contribuição efetiva para uma explicação ao ocorrido em Realengo e dessa forma podemos vivenciar este luto que se faz necessário para seguirmos acreditando na construção de uma sociedade mais justa, fraterna, igualitária.
ResponderExcluirDiscordo deste texto do blog, pois o autor (André Pessoa) quer tentar colocar na cabeça das pessoas que quem lê a Bíblia é louco e associar o crime cometido por Wellington à religião (mas não tem nada a ver com religião). O caso que aconteceu foi um fato isolado de um jovem transtornado e perturbado, um louco que não conseguiu conter o seu ódio. Não tem nada a ver com Deus nem tão pouco com religião. Deus é amor, é paz, é justiça, coisas boas. Não adianta com argumentos fúteis utilizados por André Pessoa através da internet tentar desviar as pessoas do Senhor Deus. Basta acontecer uma coisinha que envolva as Escrituras Sagradas que aí, aparece um caído pra apontar o dedo.
ResponderExcluirAndré Pessoa, repito: você deveria levar um mega-processo dos cristãos por ofendê-los dessa forma, assim como os ateus fizeram com o apresentador da Bandeirantes (que eu achei errado), mas que fizeram.
Você precisa de muita oração, porque está se deixando levar pelas mentiras do inimigo. Você é um mal que tenta afastar as pessoas de Deus. E quanto ao Wellington, com toda aquela mente perturbada, eu digo: você é pior do que ele. Você é um psicopata espiritual enviado pelo inimigo para levar as pessoas para o inferno junto com você!
Provavelmente, o jovem e atormentado Wellington potencializou a sua loucura lendo intensamente a Bíblia ou outros textos sacros nos meses posteriores ao crime.
ResponderExcluirEmbora a religião não seja responsável pela loucura das pessoas, em alguns casos ela potencializa uma tendência latente em certos indivíduos propensos por motivos genéticos à insanidade. A religião e as suas muitas prescrições morais confundem a mente daqueles que são patologicamente sensíveis aos seus apelos maniqueístas.
resposta para o anonimo 11 de abril
como se ve no tercho acima retirado do proprio artigo acho que Andre nao culpa a biblia ou a religiao mais sim a(interpretaçao) leitura que ele fez desta o momento e o estado que ele estava ao ler a biblia foi que fez com que ele a interpretasse de forma errada e poir distorcesse agumas coisas