Arquivo do blog

domingo, 6 de março de 2011

ORANDO DE OLHOS ABERTOS



ORANDO DE OLHOS ABERTOS


Você fecha os olhos e franze a testa quando faz uma prece em casa ou na igreja? Você faz força para ver o invisível?
A maior parte das pessoas parece que sim. No momento das rezas e orações as faces de distorcem. O exercício espiritual, penso eu, parece ser muito rigoroso e difícil para alguns. Falar com Deus dá trabalho, ufa!
Essa é a impressão que eu tenho quando vejo as pessoas orando. Elas parecem envolvidas em uma atividade penosa que exige muito do fiel.
As faces distorcidas que vejo na igreja só são vistas em dois outros lugares: na academia de musculação (quem não faz careta malhando?) e no quadro vanguardista de Munch, o grito.
Pela careta que as pessoas fazem enquanto oram ou rezam, deve ser mais fácil falar com um extraterrestre do que com o próprio Deus. Contatos imediatos espirituais é coisa difícil de fazer!
Além do esforço expresso na face dos fiéis, há também a oração furiosa. Refiro-me àquela na qual o indivíduo dá murros no ar, bate nos bancos da igreja e determina o que Deus tem que fazer num esforço sobre-humano para acreditar naquilo que não acredita.
Quanto a mim, nunca fecho os olhos ou franzo a testa para fazer uma prece. Quero estar de olhos bem abertos para o caso de alguma entidade metafísica aparecer; já franzir a testa, nem pensar, envelhece!
A oração não é um ato de força, mas apenas um momento de fé, de fé silenciosa e verdadeira. Onde há muito barulho e muito malabarismo espiritual só há incredulidade.
Uma prece é um instante de percepção daquilo que está para além das aparências. Como disse Nietzsche: “O desejo de ter uma fé forte não é a prova dessa fé, mas antes o contrário”.
André Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário