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sexta-feira, 18 de março de 2011

KADAF



KADAF

Depois de perceber que as forças rebeldes seriam derrotadas pelo exército fiel à Kadaf, a ONU decidiu intervir na questão. Uma zona de exclusão aérea foi criada enquanto soldados ingleses e franceses se preparam para invadir a Líbia.
Entretanto, deixando de lado tudo o que sabemos acerca dessa figura exótica, gostaria de lhe convidar a lançar um olhar diferente sobre o presidente líbio Muamar Kadaf. Sigamos nessa empreitada os conselhos de Descartes e nos desvencilhemos, antes de qualquer coisa, de toda idéia preconcebida.
Esqueça por um instante o Kadaf ditador, sanguinário, excêntrico, hora amigo dos EUA, hora opositor da América. Deixemos de lado essa imagem que a mídia e o próprio Kadaf criaram e imprimiram em nossa memória.
Gostaria de convidá-lo nesse momento a ver Kadaf como se vê um personagem do poeta grego Homero, ou seja, como um tipo. Os tipos prefiguram sempre alguma coisa, representam algo maior e que lhes transcende.
Nesse sentido, Kadaf não é um mero governante ou um simples homem, mas o representante perfeito (um tipo) de um mundo que está desmoronando. É exatamente porque sente que o seu “reinado” chegou ao fim que Kadaf luta de forma desesperada e violenta.
Muamar Kadaf é um homem desafiando a história, alguém que no seu delírio julga ser capaz de conter o espírito do tempo. Ninguém jamais escapou do “rolo compressor” que é a história. Ele será esmagado e despedaçado mais cedo ou mais tarde.
Não se luta contra a história caro Kadaf. Querer manter os antigos paradigmas quando os tempos mudaram é inútil, desafiar o novo é insano. Kadaf é a versão líbia de Sadam Hussein, um ditador vivo, mas já com aspecto de enforcado.
Eis aí uma boa palavra para descrever Kadaf: insano. Kadaf é um louco sentado em um trono que ameaça ruir, é um rei querendo reviver épocas de “glória” que não voltam mais.
Muamar Kadaf, tal e qual o Prometeu da mitologia grega, será condenado a ter o fígado comido pelos abutres (um deles é os EUA) por toda a eternidade por desafiar os deuses (o mundo ocidental). Corrijo: por desafiar a história.
Entretanto, há uma grande diferença entre Kadaf e o insurgente Prometeu; é que Prometeu roubou o fogo dos céus para dar aos reles mortais, enquanto Kadaf quis retê-lo apenas para si.
Alguém precisa dizer a Kadaf, nem que a língua usada para tanto seja o som abafado da artilharia, que é impossível guardar fogo sob a própria roupa sem se queimar. Mesmo que ele esteja guardado debaixo de um uniforme militar coberto por insígnias.
André Pessoa

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