A TRAVESSIA
O dia estava bastante nublado. Sobre a minha cabeça agigantava-se um céu cinza claro que se estendia como um manto de um lado a outro.
Não sei se eu dirigia um automóvel ou se fazia a travessia a pé de alguma forma surreal, dessas que são tão comuns nos sonhos. Eu estava dormindo e ao mesmo tempo acordado.
A ponte era longa e parecia, em sua imensidão, separar dois mundos essencialmente distintos. Só sei que eu avançava resoluto sem olhar para trás.
À minha frente, quase na linha do horizonte, se delineava os contornos semi-apagados da cidade que eu queria alcançar. Ela parecia longe, mas ao mesmo tempo possível de ser conquistada.
Mais ou menos no meio do caminho, o tempo e as circunstâncias começaram a mudar. Dentro do mar, a minha esquerda, formou-se por cima da água um emaranhado de círculos e semicírculos como se algo estivesse se mexendo logo abaixo da superfície.
Fitei, mas não fixei a vista nas águas que começavam a ficar revoltas. Segui inexoravelmente o meu caminho sem me impressionar.
Agora a silhueta da cidade prometida ficou quase imperceptível por causa da neblina, mas eu sabia que ela continuava ali onde sempre esteve. Há um tipo de cidade que nunca muda de lugar!
Foi então que, num momento de clarividência, previ a queda da ponte. Na verdade, a ponte caiu primeiro dentro de mim, antes mesmo de desabar lá fora.
Nesse exato momento ouvi um grande estrondo e senti o chão debaixo de mim desaparecer. Desci em grande velocidade na direção das águas agitadas e profundas abaixo de mim. Eu já estava preparado para esse momento.
Minutos depois acordei, mas dessa vez eu não estava sobressaltado e nem ofegante como das outras vezes. Sabia que a ponte desabaria e me preparei para continuar sem ela (a ponte somos nós mesmos).
De volta ao mundo comum, divisei com sobriedade todos os objetos do meu quarto. Levantei, fui até o banheiro e lavei o rosto.
E vejam só, havia água límpida na concha formada pela junção das minhas mãos, e pasmem: era a mesma água que minutos antes naquele outro mundo queria me afogar!
André Pessoa
O dia estava bastante nublado. Sobre a minha cabeça agigantava-se um céu cinza claro que se estendia como um manto de um lado a outro.
Não sei se eu dirigia um automóvel ou se fazia a travessia a pé de alguma forma surreal, dessas que são tão comuns nos sonhos. Eu estava dormindo e ao mesmo tempo acordado.
A ponte era longa e parecia, em sua imensidão, separar dois mundos essencialmente distintos. Só sei que eu avançava resoluto sem olhar para trás.
À minha frente, quase na linha do horizonte, se delineava os contornos semi-apagados da cidade que eu queria alcançar. Ela parecia longe, mas ao mesmo tempo possível de ser conquistada.
Mais ou menos no meio do caminho, o tempo e as circunstâncias começaram a mudar. Dentro do mar, a minha esquerda, formou-se por cima da água um emaranhado de círculos e semicírculos como se algo estivesse se mexendo logo abaixo da superfície.
Fitei, mas não fixei a vista nas águas que começavam a ficar revoltas. Segui inexoravelmente o meu caminho sem me impressionar.
Agora a silhueta da cidade prometida ficou quase imperceptível por causa da neblina, mas eu sabia que ela continuava ali onde sempre esteve. Há um tipo de cidade que nunca muda de lugar!
Foi então que, num momento de clarividência, previ a queda da ponte. Na verdade, a ponte caiu primeiro dentro de mim, antes mesmo de desabar lá fora.
Nesse exato momento ouvi um grande estrondo e senti o chão debaixo de mim desaparecer. Desci em grande velocidade na direção das águas agitadas e profundas abaixo de mim. Eu já estava preparado para esse momento.
Minutos depois acordei, mas dessa vez eu não estava sobressaltado e nem ofegante como das outras vezes. Sabia que a ponte desabaria e me preparei para continuar sem ela (a ponte somos nós mesmos).
De volta ao mundo comum, divisei com sobriedade todos os objetos do meu quarto. Levantei, fui até o banheiro e lavei o rosto.
E vejam só, havia água límpida na concha formada pela junção das minhas mãos, e pasmem: era a mesma água que minutos antes naquele outro mundo queria me afogar!
André Pessoa
Diante deste sublime sonho queria comentar algo de interessante. Em muitos significados de sonhos, vemos que um prédio (ou até mesmo uma ponte como a que foi comentada) representa o quanto somos grandes diante a sociedade. Até mesmo o quanto somos importante, mesmo que não saibamos o quanto somos.
ResponderExcluirEu não sei se lembras de mim, Professor André, mas sou um aluno seu do ano passado do pré-vestibular. E parece que seu sonho fez mesmo menção ao que eu comentei. Neste teu blogger, você tem grandes admiradores e um deles sou eu. Belas críticas são mencionadas que eu gosto muito de vê-las.
Cuidado com seus sonhos Professor, demonstram algo que foi esquecido por você ou demonstraram algo que é muito pensado por você. E atravez destes pensamentos podemos desvendar sua personalidade; Que é tão difícil de descobrir.