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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

DIAS MAUS



DIAS MAUS


De acordo com o budismo, o sofrimento e a dor caracterizam a existência no mundo. Os vivos sofrem, não importando se são pessoas boas ou más.
Em toda parte há sofrimento e o mal está impregnado em tudo o que existe. Até mesmo nas ações e gestos mais altruístas subjaz o egoísmo e a maldade.
A bondade, a misericórdia e a humildade são apenas máscaras que escondem a maldade entranhada até mesmo no coração daqueles que julgamos santos. O homem é uma espécie de pedra filosofal às avessas que tudo o que toca enegrece.
Portanto, sendo o mundo mal, é impossível evitarmos o sofrimento. Ao contrário do que se pensa, sofremos não porque fizemos algo errado, mas porque há algo errado na humanidade.
O sofrimento que nos sobrevém resulta, com raras exceções, da forma doentia como nos apegamos às coisas e as pessoas. Portanto, desapegar-se é o único antídoto capaz de combater o sofrimento nas suas mais nocivas manifestações.
Aliás, é normal atribuirmos aos outros o nosso sofrimento e o mal que nos atinge, contudo, a nossa dor quase nunca é obra do nosso semelhante (agora eu sei disso). Ninguém faz mal a ninguém, somos nós mesmos que, na maior parte das vezes, nos infringimos o mal que tanto queremos evitar.
“Dias ruins todo mundo tem”, diz o refrão de uma canção meio bobinha que toca nas rádios. Entretanto, apesar da banalidade da música em questão, é certo que dor e sofrimento “todo mundo tem”.
Para falar a verdade, o problema não é o sofrimento em si mesmo e sim a forma como o enfrentamos e reagimos a ele. O homem suicida e o que se supera enfrentaram os mesmos problemas, mas reagem de formas totalmente diferentes.
Parece contraditório e paradoxal, mas o sofrimento reside exatamente no fato de que tentamos a todo custo evitá-lo. “Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”, diz o célebre filósofo urbano Renato Russo.
Não podemos evitar a dor e o sofrimento, pois ambos são inerentes à condição humana, mas podemos suportá-los e superá-los momentaneamente até que eles voltem a aparecer. Como? Aprendendo, antes de tudo, que não podemos evitá-los, apenas nos adaptar ao ambiente hostil que é o mundo.
Em geral, a dor e o sofrimento se avolumam diante da atitude desesperada. Os nossos medos, angústias e inseguranças são o alimento preferido da dor, do mal e do sofrimento, essa tríade infernal.
A vida é como um rio que flui, o sofrimento é próprio das águas revoltas da vida, por isso não podemos evitá-lo, mas podemos ser fortes diante dele, apesar da nossa condição medíocre e ínfima dentro da imensidão esmagadora e dos mistérios do universo.

André Pessoa

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