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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

UMA CASA ESCURA



UMA CASA ESCURA


Havia murmúrio de vozes, mas não se via ninguém. De repente uma presença sinistra encheu o lugar movendo-se por ele e atravessando-o de um lado para o outro.
Eram dois entes que iam e vinham e à sua passagem havia alvoroço. Os murmúrios tornavam-se mais intensos e um choro baixinho podia ser ouvido em um recanto do lugar.
As duas presenças que passeavam no salão sem serem vistas, mas causando desespero, pareciam rir dissimuladamente enquanto conversavam entre si rosnando em uma língua ininteligível. Salivavam como se estivessem escolhendo o que comer!
O pior de tudo era que naquele lugar não se enxergava nada, apesar de ser possível pressentir o mau iminente. A morte mora ao lado.
Naquele lugar a visão não era possível, todos eram cegos porque as trevas lhes haviam cegado os olhos; tudo era breu, escuridão profunda.
O escuro e a ausência de visão causavam grande sensação de desamparo e desespero. Como lutar contra aquilo que não se vê? Lá todos estão de mãos atadas, nada se pode fazer, todas as possibilidades foram esgotadas.
O grande mau daquele lugar é a consciência que temos de estar dentro de uma casa, de uma habitação que, no entanto, não oferece proteção alguma, pelo contrário, torna-nos vulneráveis. É a mansão dos mortos!
Estive lá na noite passada e voltei logo em seguida. Ao retornar, abri os olhos e não quis mais fechá-los, pois dormir poderia significar ir e não mais voltar. Existem sonos que são profundos.
Pensei então em tudo que se diz acerca desse lugar nas igrejas e nos livros religiosos e constatei que tudo ainda é muito pouco, nada se compara aquilo que eu vi. Soube, então, depois de retornar daquele lugar, que o inferno é uma casa escura!
André Pessoa

Um comentário:

  1. Professor, mentira é a minha nota de sociologia e filosofia! kkkk, bom texto parabéns.

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