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domingo, 7 de novembro de 2010

A HISTÓRIA SE REPETE



A HISTÓRIA SE REPETE


Essa é uma expressão que não deveria ser usada, sobretudo, por historiadores. A história, do ponto de vista mais técnico, não se repete porque os eventos são únicos muito embora mantenham certa semelhança entre si. Aquilo que já aconteceu nunca volta a acontecer!
Entretanto, não consigo encontrar outra expressão que comunique com tanta propriedade aquilo que aconteceu mais uma vez durante o exame nacional do ensino médio (ENEM). O ENEM 2010 foi quase uma réplica do exame 2009: confusão e erros grosseiros!
É possível que nos próximos anos o governo federal encontre o caminho certo e aperfeiçoe o exame nacional do ensino médio, mas por enquanto ele permanece caótico. Acredito que esses erros que se repetiram nesses dois anos que a prova passou a compor o vestibular de algumas importantes universidades brasileiras tem dois motivos.
Em primeiro lugar poderíamos “ler” os muitos erros de logística que acontecem durante o ENEM como o resultado natural de uma fase de adaptação, ou seja, os erros são normais levando-se em consideração a natureza e magnitude do exame em relação ao pouco tempo em que ele está em vigor. Seria preciso um pouco de paciência até as coisas serem colocadas em seu devido lugar.
Essa seria uma leitura moderada e tolerante que consideraria as dificuldades próprias de se organizar um concurso dessa magnitude em um país de dimensões continentais como é o Brasil. Analisado desse ponto de vista o ENEM deveria ser visto como um exame difícil de ser organizado e que requer a compreensão dos estudantes.
Por outro lado também é possível fazer uma segunda “leitura” daquilo que vem acontecendo no ENEM desde o ano passado: incompetência. Nesse caso, julgaríamos que os erros absurdos que acontecem no ENEM como títulos de provas trocados na folha de resposta e vazamento de gabaritos atestam a incapacidade do INEP de organizar a prova.
Questões repetidas na prova de cor amarela desse ano e a desinformação dos fiscais foram a tônica do concurso. Reconhecendo a lambança que fez no ENEM 2010 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) não descarta a possibilidade de anular e refazer a prova para desespero dos alunos extenuados com a maratona que foi o Exame Nacional do Ensino Médio.
Do ponto de vista do conteúdo, o ENEM segue as tendências da pedagogia moderna mais interessada em reformular os antigos eixos cognitivos que nortearam os vestibulares anteriores e substituir a compartimentação cartesiana daqueles por uma perspectiva interdisciplinar. O conteúdo do vestibular mudou!
As provas do ENEM exigem dos estudantes uma leitura vasta e diversificada, uma análise crítica da história e da sociedade e o conhecimento das obras literárias contemporâneas e dos seus autores. O grande problema é que tanto os livros didáticos como uma boa parte dos professores do ensino médio ainda não estão preparados para essa realidade o que faz o estudante na hora da prova ter a sensação de que não viu os assuntos presentes na avaliação.
Isso ocorre com muita freqüência na prova de ciências humanas e suas tecnologias. Não que os professores não tenha visto os conteúdos em sala de aula, o problema é que a abordagem dos assuntos feita pelo ENEM é outra, ou seja, um enfoque cultural e socioeconômico dos temas que parece diferir bastante do aristotelismo de causa e efeito próprio das salas de aula do ensino médio.
Enfim, “a história se repetiu” de novo e os estudantes foram mais uma vez os maiores prejudicados, mas com uma diferença: este ano o INEP compensou a sua incompetência com uma postura rígida e intransigente que proibiu os alunos até mesmo de levarem para os locais de prova lápis grafite e relógio. É o sujo falando do mal lavado!

André Pessoa

2 comentários:

  1. André,
    além da confusão com as provas, agora o INEP e o MEC ficam prometer uma possível prova para os prejudicados. A confusão será ainda maior pois quem garante que a prova não será mais fácil e assim prejudicar mais pessoas.

    E tem mais, no papel da confirmação só se proibia relógio com calcuralora. Algum imbecil leu apenas relógio e a vontade de alguem ficou acima do que estava escrito.

    Não vou falar das salas, do desconforto e do calor. Também não vou falar do lápis e da borracha, pois é tão ridículo que não vale a pena. Mas se entrou de celular nas salas.

    E nada se falou pois quem reclamou foi orientado a aceitar os fatos por um dos fiscais. Isso foi por mim testemunhado.

    Mas não para por aí. Na prova de ontem haviam duas paginas para cálculos e rascunho, além de vários espaços durante as questoes. E ontem nem teve tanto cálculo. Hoje, prova de mátemática, tivemos apenas um único quadro de 6cm x 6 cm para utilizar como área de cálculos para todas as questoes de matemática.

    Isso é Brasil, um país para todos! Todos os erros possíveis.

    Allis

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  2. Professor, o pior é que toda essa confusão interfere quem vai entrar na universidade e nós, que já estamos. Porque quando mais o ENEM for adiado, mais o período demora a começar, e menos férias teremos pra compensar no meio do ano. Tá, isso é o de menos, se considerarmos a bela porcaria que é essa 'organização' do INEP. Numa boa, preferia o vestibular como era antes!
    Ano passado, sofri com o ENEM porque o fiz, e agora, sofrerei as consequências dele como já dito. E junto comigo, grande parte do Brasil!

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