O CONHECIMENTO
Só agora aos 42 anos de idade percebo claramente que já não leio mais como lia há dez anos. Aquele devorador de livros que lia cinco livros por semana não existe mais, deu lugar a um leitor menos compulsivo, mais racional e que acredita em outras modalidades de conhecimento que não seja o bibliográfico.
Houve um tempo em que para mim um livro era mais importante do que uma pessoa. Eu ficava bastante irritado quando as minhas leituras eram interrompidas por alguém que se aproximava de mim para uma conversa. Um dia, porém, li em um livro de Martin Bubber que nós só entramos nos nossos quartos para ler um bom livro porque sabemos que ao sair dele encontraremos alguém com quem compartilhar aquilo que lemos. Os livros existem por causa das pessoas e não o contrário!
Lê-los não faria qualquer sentido se eles não falassem sobre os seres humanos em suas aventuras e desventuras, idas e vindas, alegrias e tristezas. Nesse sentido, os livros não passam de documentos nos quais está contida a essência humana e a leitura deles tem como finalidade última compartilhar com os outros seres humanos um destino comum.
Embora eu diga sempre que não leio como antes porque agora estou mais ocupado, trabalhando mais, isto não corresponde inteiramente à verdade, mas apenas a uma parte dela. Mesmo quando eu não trabalhava a quantidade de horas que agora trabalho certamente tinha outras ocupações que poderiam ter me impedido de ler a quantidade de livros que li, embora isto não tenha ocorrido.
A diminuição da quantidade de livros lida por mim trata-se na verdade de uma mudança de prioridade e de ênfase. Ou seja, hoje eu não leio a quantidade de livros que antes lia porque as minhas prioridades mudaram e os meus interesses também. Antes eu buscava a informação, agora eu me esforço por obter o conhecimento.
Talvez você esteja se perguntando agora: será que obter informação não é a mesma coisa que conhecer? Claro que não. Obter informação é apenas o primeiro passo na direção do conhecimento, mas em hipótese alguma é sinônimo de conhecimento. Os computadores armazenam milhões de informações e continuam sendo máquinas burras, inteligências artificiais dependentes dos homens que os projetaram.
O conhecimento só é possível por causa do pensamento e pensar é articular signos (símbolos). O conhecimento só surge quando as informações são processadas e o significado construído a partir do arranjo feito com as informações das quais dispusemos e suas múltiplas interpretações.
Você pode conhecer muitas datas, nomes e fatos da história brasileira e mesmo assim continuar nada sabendo sobre história do Brasil. A questão central não é obter informações e sim saber o que fazer com as informações obtidas. As informações são apenas a matéria-prima, o conhecimento é que é o produto final. A informação é a massa, o conhecimento é o bolo pronto e saboroso!
Percebo que uma boa parte das pessoas nada conhece apesar de muito estudarem e mesmo depois de fazerem graduação, pós-graduação, mestrado e até mesmo doutorado, continuam nada sabendo e permanecem em um profundo estado de ignorância porque nunca conheceram de fato, mas apenas obtiveram um número maior ou menor de informações, dependendo do tipo de curso que fizeram e da quantidade de horas estudadas. Em muitos casos, elas estudam para permanecerem burras!
Outro problema que temos acerca do conhecimento é que em geral não somos capazes de produzir verdadeiro conhecimento porque a nossa definição de conhecimento é equivocada, pois resulta de uma idéia incorreta acerca da verdadeira natureza do conhecimento herdada da ciência moderna. Em outras palavras, na base da atividade do sujeito cognoscente (que conhece) está a suposição de que ele precisa apreender, dominar o objeto que busca conhecer.
Dessa forma vinculamos a idéia de conhecer a necessidade de dominar. Confundimos o conhecimento com o poder e conhecemos as coisas apenas para dominá-las e tirar proveito delas. O nosso conhecimento de quase todas as coisas é um conhecimento meramente técnico, isto é, um conhecimento obtido com a finalidade de aperfeiçoar o que já fazemos com o fim de melhor manipular e dominar algo. O homem conhece para dominar, mas a verdadeira função do conhecimento é complementar.
Conhecer é buscar algo que ainda nos falta, alguma coisa sem a qual não somos completos. Quando desejo conhecer todas as coisas que poderia conhecer o que está por trás da minha atitude é a certeza de que sem as demais coisas eu sou incompleto e imperfeito. Conhecer, nesse sentido, é buscar a perfeição, é desejar a eternidade contida em todas as coisas que nos rodeiam, tanto as más como as boas!
Conhecer não é dominar, é complementar-se, mas o mundo não sabe ou não quer saber disso. Por exemplo, às vezes escuto as pessoas dizerem que farão um curso de inglês, mas o motivo nunca é poder falar outra língua com alguém de outra cultura, mas apenas aperfeiçoar os seus currículos e obter novas oportunidades de emprego que lhes permita ascender profissionalmente, ganhar dinheiro, ser promovido, chefiar outras pessoas e dominá-las. O conhecimento em nosso mundo virou uma ferramenta de domínio!
Mas voltando a questão anterior, o que hoje me interessa é o conhecimento que me complemente e não a mera informação que me enche como se eu fosse um recipiente vazio no qual se derrama algum tipo de líquido. Quero ser completo e não apenas cheio!
Antes quando eu entrava em uma livraria ou biblioteca geralmente saía com três ou quatro livros debaixo do braço. Hoje, aos 42 anos de idade, às vezes passo horas a fio entre as prateleiras e estantes das bibliotecas e livrarias procurando uma leitura que valha a pena e saio de mãos vazias.
Nem sempre nas muitas letras há sabedoria. Talvez, começo a desconfiar só agora, que o que tanto procuro não esteja nos lugares onde estou procurando. Só agora tenho certeza de que o verdadeiro conhecimento está muito além das páginas de um livro, possivelmente dentro de mim mesmo esperando para vir á tona curiosamente quando eu esquecer o meu próprio eu.
Só agora aos 42 anos de idade percebo claramente que já não leio mais como lia há dez anos. Aquele devorador de livros que lia cinco livros por semana não existe mais, deu lugar a um leitor menos compulsivo, mais racional e que acredita em outras modalidades de conhecimento que não seja o bibliográfico.
Houve um tempo em que para mim um livro era mais importante do que uma pessoa. Eu ficava bastante irritado quando as minhas leituras eram interrompidas por alguém que se aproximava de mim para uma conversa. Um dia, porém, li em um livro de Martin Bubber que nós só entramos nos nossos quartos para ler um bom livro porque sabemos que ao sair dele encontraremos alguém com quem compartilhar aquilo que lemos. Os livros existem por causa das pessoas e não o contrário!
Lê-los não faria qualquer sentido se eles não falassem sobre os seres humanos em suas aventuras e desventuras, idas e vindas, alegrias e tristezas. Nesse sentido, os livros não passam de documentos nos quais está contida a essência humana e a leitura deles tem como finalidade última compartilhar com os outros seres humanos um destino comum.
Embora eu diga sempre que não leio como antes porque agora estou mais ocupado, trabalhando mais, isto não corresponde inteiramente à verdade, mas apenas a uma parte dela. Mesmo quando eu não trabalhava a quantidade de horas que agora trabalho certamente tinha outras ocupações que poderiam ter me impedido de ler a quantidade de livros que li, embora isto não tenha ocorrido.
A diminuição da quantidade de livros lida por mim trata-se na verdade de uma mudança de prioridade e de ênfase. Ou seja, hoje eu não leio a quantidade de livros que antes lia porque as minhas prioridades mudaram e os meus interesses também. Antes eu buscava a informação, agora eu me esforço por obter o conhecimento.
Talvez você esteja se perguntando agora: será que obter informação não é a mesma coisa que conhecer? Claro que não. Obter informação é apenas o primeiro passo na direção do conhecimento, mas em hipótese alguma é sinônimo de conhecimento. Os computadores armazenam milhões de informações e continuam sendo máquinas burras, inteligências artificiais dependentes dos homens que os projetaram.
O conhecimento só é possível por causa do pensamento e pensar é articular signos (símbolos). O conhecimento só surge quando as informações são processadas e o significado construído a partir do arranjo feito com as informações das quais dispusemos e suas múltiplas interpretações.
Você pode conhecer muitas datas, nomes e fatos da história brasileira e mesmo assim continuar nada sabendo sobre história do Brasil. A questão central não é obter informações e sim saber o que fazer com as informações obtidas. As informações são apenas a matéria-prima, o conhecimento é que é o produto final. A informação é a massa, o conhecimento é o bolo pronto e saboroso!
Percebo que uma boa parte das pessoas nada conhece apesar de muito estudarem e mesmo depois de fazerem graduação, pós-graduação, mestrado e até mesmo doutorado, continuam nada sabendo e permanecem em um profundo estado de ignorância porque nunca conheceram de fato, mas apenas obtiveram um número maior ou menor de informações, dependendo do tipo de curso que fizeram e da quantidade de horas estudadas. Em muitos casos, elas estudam para permanecerem burras!
Outro problema que temos acerca do conhecimento é que em geral não somos capazes de produzir verdadeiro conhecimento porque a nossa definição de conhecimento é equivocada, pois resulta de uma idéia incorreta acerca da verdadeira natureza do conhecimento herdada da ciência moderna. Em outras palavras, na base da atividade do sujeito cognoscente (que conhece) está a suposição de que ele precisa apreender, dominar o objeto que busca conhecer.
Dessa forma vinculamos a idéia de conhecer a necessidade de dominar. Confundimos o conhecimento com o poder e conhecemos as coisas apenas para dominá-las e tirar proveito delas. O nosso conhecimento de quase todas as coisas é um conhecimento meramente técnico, isto é, um conhecimento obtido com a finalidade de aperfeiçoar o que já fazemos com o fim de melhor manipular e dominar algo. O homem conhece para dominar, mas a verdadeira função do conhecimento é complementar.
Conhecer é buscar algo que ainda nos falta, alguma coisa sem a qual não somos completos. Quando desejo conhecer todas as coisas que poderia conhecer o que está por trás da minha atitude é a certeza de que sem as demais coisas eu sou incompleto e imperfeito. Conhecer, nesse sentido, é buscar a perfeição, é desejar a eternidade contida em todas as coisas que nos rodeiam, tanto as más como as boas!
Conhecer não é dominar, é complementar-se, mas o mundo não sabe ou não quer saber disso. Por exemplo, às vezes escuto as pessoas dizerem que farão um curso de inglês, mas o motivo nunca é poder falar outra língua com alguém de outra cultura, mas apenas aperfeiçoar os seus currículos e obter novas oportunidades de emprego que lhes permita ascender profissionalmente, ganhar dinheiro, ser promovido, chefiar outras pessoas e dominá-las. O conhecimento em nosso mundo virou uma ferramenta de domínio!
Mas voltando a questão anterior, o que hoje me interessa é o conhecimento que me complemente e não a mera informação que me enche como se eu fosse um recipiente vazio no qual se derrama algum tipo de líquido. Quero ser completo e não apenas cheio!
Antes quando eu entrava em uma livraria ou biblioteca geralmente saía com três ou quatro livros debaixo do braço. Hoje, aos 42 anos de idade, às vezes passo horas a fio entre as prateleiras e estantes das bibliotecas e livrarias procurando uma leitura que valha a pena e saio de mãos vazias.
Nem sempre nas muitas letras há sabedoria. Talvez, começo a desconfiar só agora, que o que tanto procuro não esteja nos lugares onde estou procurando. Só agora tenho certeza de que o verdadeiro conhecimento está muito além das páginas de um livro, possivelmente dentro de mim mesmo esperando para vir á tona curiosamente quando eu esquecer o meu próprio eu.
André Pessoa
Sempre tive esse pensamento, de que o conhecimento é melhor do que uma formação acadêmica, ou mesmo um diploma. E, realmente, as pessoas simplesmente não entendem que vigora uma inversão de valores neste mundo; constatei isso quando abandonei minha primeira faculdade: minha família armou um chororô desatado, até hoje não entendem o por quê da minha atitude na época.
ResponderExcluir...
André, aproveitando meu primeiro comentário, quero parabenizá-lo pelo blog, um dos melhores que acompanho.