EU NÃO AMO NINGUÉM
As vezes uso algumas expressões e falo certas coisas com as quais as pessoas não estão familiarizadas e dispostas a escutar. Quando isso acontece a reação é sempre mesma, ou seja, uma grande agitação, uma efusão desordenada e confusa de sentimentos e opiniões.
Isto se repitiu na semana passada quando eu dava uma palestra sobre afetividade. Depois de enumerar, do ponto de vista filosófico, as caracteríticas daquilo que chamamos de amor , afirmei de forma convicta e sem pensar duas vezes que eu não amava ninguém, fala que me rendeu um bom número de críticas.
Quero, portanto, usar o espaço deste texto para justificar essa tão controversa afirmação geradora de tanto mau entendido. Não me justificarei por que sinta necessidade de fazê-lo, aliás, não costumo perder tempo tentando legitimar através de muita teoria as minhas ações, apenas sinto necessidade de ser mais claro.
Quando digo que não amo ninguém faço isso por que conheço o significado da palavra amor e os seus usos no mundo antigo e também no mundo moderno. Usarei aqui a palavra amor no seu sentido mais abstrato, metafísico, filosófico-teológico, refiro-me ao chamado amor ágape.
Os gregos usavam a palavra amor em dois sentido: eros (para se referir ao amor físico, carnal) e ágape (para se referir ao amor perfeito, ideal). Portanto, quando eu falar em amor estarei me referindo ao sengundo sentido, ao amor ágape.
Na Bíblia a palavra ágape refere-se a um tipo de amor que corresponde a um vínculo com a perfeição e com o prórprio Deus. A palavra ágape é usada pelos escritores canônicos para descrever um amor altruísta, não egoísta, que busca em primeiro lugar o bem do outro, que dá sem nada receber.
Neste sentido da palavra, afirmo, sem medo de errar, que não amo ninguém, nem mesmo as pessoas que me são mais íntimas. Aliás, eu nunca uso a expressão “eu te amo”, esse jargão romântico transformado em lixo retórico, tão difundido em todos os meios e tão carente de verdadeira significação.
O amor, penso eu, pode ser comparado a uma estrela em uma longínqua galáxia. O vemos apensa de longe, sem que possamos tocá-lo. O amor, suponho eu (mesmo enfrentando a fúria dos mais sensíveis) é um ideal, é uma grandeza platônica, um arquétipo, um habitante de um mundo distante e afastado de nós.
O amor arrumou as malas e fugiu do nosso planeta e das nossas relações deixando atrás de si apenas um rastro que é impossível de ser seguido. O amor foi embora, transformou-se em um alienígena, em antígeno, corpo estranho aos seres humanos. Ah, o amor...
O amor possui uma natureza incompatível com a nossa. Há algo nos seres humanos, talvez um processo de desnaturação, que impede a formação de um “centro ativo” que possa nos ligar ao amor. O amor foge do ego, dos interesses mesquinhos, da escravização sexual, da sensualidade vazia e desenfreiada.
Eu não amo e reconheço que não amo por que, entre outras coisas, eu sou barulhento, e o meio através do qual se propaga o amor é o silêncio. O amor nunca diz que ama, apenas age silenciosamente como se amasse. A retórica é a antítese do amor, por isso mesmo torno-me réu do que estou dizendo nesse exato momento.
Se um dia eu for julgado não será em tribunais humanos e corrompidos, iguais a mim; não me interesso por sentenças proferidas pelos meus semelhantes (estou acima delas). Se um dia eu for julgado, e quem sabe condenado, será no tribunal do amor, e lá não ousarei levantar a minha cabeça e nem fitar o meu juiz. Sou réu confesso!
Eu não amo ninguém e talvez nunca ame; esse tempo já passou em minha vida. O mundo não precisa de amor, mas de verdade. Somente quando aprendermos a ser verdadeiros poderemos dar os primeiros passos em direção ao amor. Mas esta estrada, digo com pesar, é bastante longa e sinuosa e muitos se perdem no caminho.
As vezes uso algumas expressões e falo certas coisas com as quais as pessoas não estão familiarizadas e dispostas a escutar. Quando isso acontece a reação é sempre mesma, ou seja, uma grande agitação, uma efusão desordenada e confusa de sentimentos e opiniões.
Isto se repitiu na semana passada quando eu dava uma palestra sobre afetividade. Depois de enumerar, do ponto de vista filosófico, as caracteríticas daquilo que chamamos de amor , afirmei de forma convicta e sem pensar duas vezes que eu não amava ninguém, fala que me rendeu um bom número de críticas.
Quero, portanto, usar o espaço deste texto para justificar essa tão controversa afirmação geradora de tanto mau entendido. Não me justificarei por que sinta necessidade de fazê-lo, aliás, não costumo perder tempo tentando legitimar através de muita teoria as minhas ações, apenas sinto necessidade de ser mais claro.
Quando digo que não amo ninguém faço isso por que conheço o significado da palavra amor e os seus usos no mundo antigo e também no mundo moderno. Usarei aqui a palavra amor no seu sentido mais abstrato, metafísico, filosófico-teológico, refiro-me ao chamado amor ágape.
Os gregos usavam a palavra amor em dois sentido: eros (para se referir ao amor físico, carnal) e ágape (para se referir ao amor perfeito, ideal). Portanto, quando eu falar em amor estarei me referindo ao sengundo sentido, ao amor ágape.
Na Bíblia a palavra ágape refere-se a um tipo de amor que corresponde a um vínculo com a perfeição e com o prórprio Deus. A palavra ágape é usada pelos escritores canônicos para descrever um amor altruísta, não egoísta, que busca em primeiro lugar o bem do outro, que dá sem nada receber.
Neste sentido da palavra, afirmo, sem medo de errar, que não amo ninguém, nem mesmo as pessoas que me são mais íntimas. Aliás, eu nunca uso a expressão “eu te amo”, esse jargão romântico transformado em lixo retórico, tão difundido em todos os meios e tão carente de verdadeira significação.
O amor, penso eu, pode ser comparado a uma estrela em uma longínqua galáxia. O vemos apensa de longe, sem que possamos tocá-lo. O amor, suponho eu (mesmo enfrentando a fúria dos mais sensíveis) é um ideal, é uma grandeza platônica, um arquétipo, um habitante de um mundo distante e afastado de nós.
O amor arrumou as malas e fugiu do nosso planeta e das nossas relações deixando atrás de si apenas um rastro que é impossível de ser seguido. O amor foi embora, transformou-se em um alienígena, em antígeno, corpo estranho aos seres humanos. Ah, o amor...
O amor possui uma natureza incompatível com a nossa. Há algo nos seres humanos, talvez um processo de desnaturação, que impede a formação de um “centro ativo” que possa nos ligar ao amor. O amor foge do ego, dos interesses mesquinhos, da escravização sexual, da sensualidade vazia e desenfreiada.
Eu não amo e reconheço que não amo por que, entre outras coisas, eu sou barulhento, e o meio através do qual se propaga o amor é o silêncio. O amor nunca diz que ama, apenas age silenciosamente como se amasse. A retórica é a antítese do amor, por isso mesmo torno-me réu do que estou dizendo nesse exato momento.
Se um dia eu for julgado não será em tribunais humanos e corrompidos, iguais a mim; não me interesso por sentenças proferidas pelos meus semelhantes (estou acima delas). Se um dia eu for julgado, e quem sabe condenado, será no tribunal do amor, e lá não ousarei levantar a minha cabeça e nem fitar o meu juiz. Sou réu confesso!
Eu não amo ninguém e talvez nunca ame; esse tempo já passou em minha vida. O mundo não precisa de amor, mas de verdade. Somente quando aprendermos a ser verdadeiros poderemos dar os primeiros passos em direção ao amor. Mas esta estrada, digo com pesar, é bastante longa e sinuosa e muitos se perdem no caminho.
André Pessoa
Bem diferente o seu ponto de vista...
ResponderExcluirMas eu não acredito que você não sinta esse amor por ninguém, nem mesmo por sua filha! Acho que um pai sempre estará pronto pra renunciar pelos seus...
Muita coisa do que você diz me faz pensar que você tem medo de se envolver com sentimentos... Sei lá, por insegurança, ou por desacreditar em algo que eu ainda não sei bem explicar. Mas eu tenho certeza que falta algo em você, como se você fosse incompleto e soubesse bem disso...
Bem, mas eu não faço parte de um tribunal humano... Não pretendo julgar ninguém, nem mesmo você.
dicotomias...fujo delas por descrença total no ou é isso ou aquilo? Somos isso e aquilo, somos eros e ágape, somos muito mais, que me desculpem os gregos ou seja lá quem for. Ah, as teorias sobre o amor, na prática valem pouco ou quase nada. Como qualquer sentimento humano, o amor, é para mim, subjetivo, vivência pessoal-intransferível-irrepetível-indizível. Fórmulas, generalizações, estatísticas e até pesquisas científicas nunca vão conseguir definição,exatidão, regras para a liquidez das emoções. Então porque não deixá-la fluir, que é o que é próprio da natureza delas? Na minha opinião,amar é um aprendizado, e como tal a experiência é variável,cada pessoa descobre a sua maneira de lidar com isso. Eu amo amar! Em palavras e silêncios, coisas, pessoas, lugares, momentos...cada um de um jeito...Sou uma apaixonada confessa pela/da vida, que para mim só tem graça quando vivida intensamente. Já aprendi que cabeça não quebra mesmo, que nada é definitivo, então "me jogo" e sou feliz assim, sem o medo do sofrimento e o pavor da entrega/envolvimento que instalou na humanidade essa "amorfobia". Falei demais como sempre, mas espero que seja um contraponto interessante dessa reflexão. Parabéns pelo seu (ou melhor, nosso...que entrei nessa também e estou "amando")dia! Felizes dias dos professores para todos...e que nunca esqueçam a "beleza de ser um eterno aprendiz".
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