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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

EMPÁFIA



EMPÁFIA


Mesmo sozinha, sem adorno e desacompanhada, esta palavra quase me leva ao desespero. Não sei se pelas cenas que ela evoca ou pela crueza da definição, só sei que me exaspera, me enerva, desperta em mim múltiplas emoções.
Digo sempre aos meus alunos, “cabalista” que sou, que certas palavras trazem em si um mundo, são depositárias de sensações e antigos segredos. Esta, por exemplo, ouvi algumas vezes pronunciada por lábios que de tão fictícios tornaram-se por demais verdadeiros.
A gravidade desta palavra está no fato dela insinuar o nojo que algumas pessoas têm do seu semelhante e de tudo o que é trivial. Empáfia é coisa de gente arrogante, prepotente, auto-suficiente, de quem se suicida lançando-se do alto do próprio ego.
Não, definitivamente não, empáfia não é uma palavra, é uma sentença; e o pior de tudo: contra mim. Vejam que ironia, o escritor que se move entre milhões de palavras e milhares de livros, preso, cativo, encarcerado no interior de uma única palavra.
Na verdade, empáfia não é uma palavra, é a própria substância da minha alma, é a minha doença e o meu maior tesouro. Por trás das muralhas desta cidade-palavra desfilam as minhas amarguras e esperanças num cortejo interminável em direção ao indizível. Empáfia é um resumo do meu ser!
Esta palavra “tem pernas e braços, correu atrás de mim hoje”. Ela é um espelho, ou quem sabe uma janela que me liga ao passado, mas que também me projeta para o futuro. Ela sou eu definido pela boca mais vulgar que os meus lábios já beijaram.

André Pessoa

Um comentário:

  1. André,

    diante de um texto dedicado a uma única palavra, acabei seguindo em direção ao léxico e descobri algo pior que a empáfia: a embófia.

    O mais interessante é saber que ambas são sinônimas, mas um ser embófio deve ter mais empáfia acumulada em suas ações mesquinhas.

    Grande abraço e um ótimo final de semana.
    Allis

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