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segunda-feira, 12 de julho de 2010

COMEDORES DE LIXO



COMEDORES DE LIXO



Esta semana o Brasil ficou estarrecido com o caso do assassinato brutal de Eliza e que envolveu o goleiro Bruno do Flamengo. Todos se horrorizaram com a execução violenta da moça seguida do esquartejamento próprio de filme de terror.
Por que tanta violência? Por que tanta crueldade? Como pode alguém cometer um crime dessa natureza? Eu, porém, nunca me contento com as abordagens superficiais e convido você a mergulhar na raiz do problema.
Em minha opinião, Bruno e Eliza não são a doença em si, mas apenas um dos seus sintomas. Acredito que eles representam algo de grande magnitude e que não se esgota nas reportagens sensacionalistas da TV, este crime é um sinal da nossa enfermidade social.
A nossa sociedade está doente e a sua doença pode ser conhecida através dos seus múltiplos sintomas, o caso Bruno-Eliza é apenas um deles. Aliás, crimes dessa natureza não é mais exceção no Brasil, e sim regra. Neste exato momento muitos outros estão acontecendo.
A estória brutal deste assassinato é uma espécie de Raio-X social, denuncia a fragilidade dos nossos valores e mostra que aquilo que as pessoas buscam tenazmente (dinheiro, fama, sexo) pode se reverter em catalisadores de tragédias. Aquilo que a sociedade busca como se fosse ouro não passa de excrementos!
Embora o meu objetivo não seja proferir um discurso moralista, não é preciso ser muito inteligente para perceber que o assassinato de Eliza é o resultado trágico de um típico caso em que a garota bonitinha procura notoriedade e melhores condições de vida junto a alguém famoso e acaba se dando mal.
De um lado uma garota ambiciosa que não mediu as conseqüências das suas aventuras amorosas e do outro um homem sem escrúpulos movido pelos sentimentos mais perversos e por interesses mesquinhos. Foi a união entre o fogo e o material combustível!
O que quase ninguém comenta, porém, é que o comportamento inadequado destes dois trágicos personagens representa o apodrecimento dos valores sociais. Enfim, Eliza terminou morta e Bruno desgraçadamente encarcerado por que ambos queriam “se dar bem”.
Estes crimes sinistros e violentos nada mais são do que o resultado do trabalho lento de demolição dos valores humanos produzidos através de setores, instituições e personagens sociais que não têm qualquer compromisso com o bem estar da humanidade. Estamos demolindo a casa e ela está caindo em nossas cabeças!
Alimentamos-nos todos os dias com lixo existencial que nos é dado a comer através da TV, da Internet, das músicas medíocres e de outras instâncias. Este caso nada mais é do que a indigestão de uma sociedade composta por “comedores de lixo”.
Somos todos “comedores de lixo” e o caso Bruno-Eliza é o vômito proveniente do nosso mal estar. Não podemos pensar e nem supor que tendo nos alimentado dia após dia com porcaria poderíamos ter outra reação que não fosse vomitar toda esta violência social estampada nos jornais.
Não existe mais o respeito pelo outro, mas apenas a vontade de tirar proveito das pessoas. As nossas relações são essencialmente superficiais e instrumentais, fato que garantirá a nossa futura indigestão social. As pessoas se transformaram apenas em meio e não mais representam um fim.
Esquecemos que ao nos envolver com as pessoas estamos penetrando no mundo delas e lidando com a alma, os sonhos e as expectativas de cada um. Os crimes brutais são um aviso de que estamos “brincando com fogo” e “adentrando o inferno” como se estivéssemos ingressando numa colônia de férias.
O caso Bruno-Eliza é um telegrama, uma mensagem, um aviso para que nós que nos envolvemos todos os dias com outras pessoas sem a mínima noção do que existe por trás dos relacionamentos sejamos mais criteriosos. Amor, ódio, paixão doentia, sensualidade exacerbada, são matéria-prima para fabricar desgraças e bombas armadas para explodir a qualquer momento.
Cada vez mais este tipo de caso envolve pessoas conhecidas com as quais nos relacionamos e que participam do nosso círculo de amizades. O mau mora ao lado; é como um criminoso sombrio a nos espreitar. E tudo isso por que não passamos de “comedores de lixo”.

André Pessoa

3 comentários:

  1. Comedores e produtores de lixo também, infelizmente. Essas mazelas sociais explicam a descrença de muitos na raça humana. Eu ainda prefiro e preciso acreditar que há uma saída. Mas fico atenta aos sinais, afinal não precisamos cometer todos os erros para aprender a lição, podemos aprender com os erros dos outros, não é?
    Obrigada pela aula de Nietzsche...Concluí a crítica e quero sua opinião sincera sobre o texto,tá?

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  2. André, você tem razão quando fala da nossa sociedade, mas o que está acontecendo no momento não é um caso novo. Infelizmente isso é mais antigo do que nós dois. Me lembro de quando era pequeno que minha mãe me orientava para não conversar com estranhos na rua. A diferença é que antes não havia toda essa facilidade de comunicação e se conseguia esconder com mais facilidade.

    Contudo, quando você diz: Não existe mais o respeito pelo outro" eu complemento que não existe mais respeito por si próprio também. A nossa sociedade está perdendo o respeito por ela própria e ninguém fala nada, pois aprendemos nos ultimos anos apenas sobre os direitos e esquecemos os deveres.

    Excelente a sua abordagem para um assunto tão grave.
    Allis

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  3. Que falta faz uma cabeça pensante como ou feito você, ainda bem que você está aqui, para nos fazer reflitir sobre este fatos e atos que nos circunda a todo momento. O Brasil realmente é uma doença e precisamos assumir está lepra e beber a água suja da sarjeta!

    Este crime vai além da barbarie!!!

    abraço!!!

    Jó palaifita!!!

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