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quarta-feira, 24 de março de 2010

EU ME CORROMPI



EU ME CORROMPI


José Eduardo Agualuza, em seu livro Barroco Tropical, diz de um dos seus personagens, um tal de Malaquias da Palma Chambão, que a consciência de que havia se corrompido o tornava mais fascinante.
Não sei se a consciência que tenho da minha própria corrupção me torna mais fascinante, mas sem dúvida alguma ela me faz mais autêntico e menos comprometido com as máscaras sem graça que usamos todos os dias.
Na verdade, a minha consciência de corrupção não me conduziu à extremos, pelo contrário, ela fez-me repousar no meio, na média áurea, como queria Aristóteles. Quando deixamos de nutrir falsas expectativas em relação a nós mesmos dormimos melhor!
Deixe-me explicar. A minha consciência de corrupção faz-me perceber que não sou tão bonzinho como os santos da igreja, sempre com os olhos voltados para o vazio, com semblantes atônitos e auréola cor de nada boiando no ar logo acima da cabeça.
Aliás, nunca gostei muito de gente muito santa. Quando ouço falar que tem um homem santo e íntegro nas redondezas, seguro logo a minha carteira (os bandidos agora moram nos templos!).
Também não sou um cara mau; complexo talvez. Esse estereótipo de mauzinho é pouco original; roupas escuras e cara de sádico não mais me fascinam. Gosto do “mal que não dá bandeira”, multiforme, meio mal, meio bem, entende? (nem eu!).
Pois é amigo, é verdade, eu me corrompi. E olhe que nem mesmo sei quando isso aconteceu, embora tenha uma vaga lembrança.
Tenho a impressão que me corrompi no dia em que ela foi embora e eu desejei que todas as pragas e males do mundo desabassem sobre a sua cabeça. Depois entendi que o mal que atinge uma pessoa não é algo exterior, mas é uma condição interior (o mal já era dono da coitada, pra quê mais tragédia?).
Hoje, alguns meses depois, não desejo mal a mais ninguém, não quero que ninguém morra ou fique mutilado, nem mesmo quem me fez mal. Estranho, entretanto, é isso acontecer justamente agora quando tenho a plena consciência de que eu me corrompi.

André Pessoa

2 comentários:

  1. Aplausos para as maravilhas da internet!!
    Professor, Sou Lucas Magno fui seu aluno no terceiro ano, do ano de 2008 no colegio Decisao(imbiribeira). Eu era um guri de barba que ficava conversando com senhor depois das aulas(especificas) de historia, na sexta a tarde... Vai ser difícil lembrar, devido a imensa quantidade de alunos que já passaram pelo senhor...
    Estava me lembrando hoje a tarde de uma de nossas conversas, deu até saudade, quanto tive a grande ideia de colocar palavras chaves, que me levassem ao senhor, no google..pois é encontrei seu blog.
    Fiquei Feliz com isso...principalmente em saber que por aqui vou continuar tendo acesso ao senhor ou ao menos a textos do senhor.
    Rá!!
    Abraços.
    lucas_rec@hotmail.com

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  2. Concordo Plenamente , chega de falsos moralismos , chega de fingir ser oque não somos só parara convencer a sociedade ...

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