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segunda-feira, 29 de março de 2010

DESENCARNA

DESENCARNA


Quando estudei teologia descobri que a grande responsável pela corrupção de um padre ou pastor não era a bebida alcoólica ou as mulheres, mas a familiaridade com o sagrado.
Depois de certo tempo oficiando missas e cultos no templo, os lugares e os objetos sacros deixam de ser sagrados para o sacerdote. Passados os anos, os clérigos, tal e qual os funcionários do IML que almoçam ao lado dos defuntos, não mais se comovem nem se impressionam com as coisas que emocionam as demais pessoas.
No que diz respeito ao relacionamento entre os casais ocorre o mesmo. Por mais paradoxal e contraditório que isso possa parecer é a proximidade e a familiaridade que os afasta.
Quer enjoar de alguém rapidinho? Veja essa pessoa todos os dias. Talvez seja por isso que tantos casamentos depois dos dez anos (às vezes bem menos) tornam-se apenas rotina mecânica e desprovida de sentido.
A proximidade afasta porque convivendo mais de perto vemos com mais nitidez os defeitos das pessoas com as quais estamos nos relacionando.
Se não dizemos nada acerca desses defeitos é porque estamos tentando ser educados e cordiais e também porque sabemos que nós mesmos temos outros tantos defeitos.
Lembro-me, por exemplo, da primeira vez que contemplei com perplexidade uma veia super verde que se sobressaía por baixo da pele excessivamente clara de uma de minhas antigas namoradas.
O que me deu alento depois disso foi a consciência de que ela também deveria ter notado em mim coisas que com certeza não lhe agradaram. Nesse dia descobri que ninguém é perfeito, nem mesmo eu.
Pois é meu amigo (a), quer viver mais tempo com a pessoa com quem você está agora? Então desgruda, desencarna. Excesso de proximidade é a melhor fórmula para destruir rapidamente um romance.
Além do mais, você também não deve esquecer que coisas como carinho, amor e sexo são como os prêmios da megasena: Quanto mais acumular melhor!

André Pessoa

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