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sábado, 17 de outubro de 2009

O MAR



O MAR


Sinto-me triste. No entanto, isso não tem qualquer relação com perdas, sentimentos afetivos ou qualquer coisa desse tipo, embora, nesse particular, eu não seja diferente de ninguém.
Minha tristeza não é a tristeza do choro, das lágrimas. Não estou deprimido, desiludido, me sentindo fracassado ou qualquer coisa do gênero.
Todas essas coisas são insuficientes para descrever o que estou provando nesse momento de minha vida. Minha tristeza não vem desse mundo nem das banalidades que me fizeram chorar em outros tempos.
Não se trata também de qualquer sentimento de remorso ou arrependimento nos moldes de uma vazia religiosidade. Essa fase já passou: foi a infância espiritual.
O que sinto é maior, é inexplicável, é bom e ruim ao mesmo tempo. A tristeza que eu sinto resulta da saudade que tenho de tudo que ainda não vi, do que está à frente e não do que ficou para trás.
Assim como o mendigo dos filmes, o meu nariz está colado na vitrina enquanto eu contemplo o objeto que tanto desejo sem poder tomá-lo em minhas mãos. Estou triste porque desejo ardentemente algo que está a um passo de mim, mas que por enquanto não posso tocar.
A sensação que eu sinto agora é parecida com algo que provei muitas vezes em minha infância quando ia à praia de carro com a minha família, meu pai ao volante e eu sentado junto com os meus irmãos no banco de trás.
Depois de alguns quilômetros percorridos a paisagem na margem da estrada ia mudando, coqueiros surgiam gradativamente e sentíamos o cheiro do mar embora não pudéssemos vê-lo ainda.
O mar! Anseio por ele do mesmo jeito que o desejava quando criança. Agora, porém, trata-se de outras águas, de outras praias, algo bem mais deslumbrante e diferente de um passeio inocente de final de semana.

André Pessoa

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