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sábado, 30 de maio de 2009





ANJO$ E DEMÔNIO$


Quem achou que tinha aprendido tudo sobre fazer sucesso e ficar rico depois de ter lido os livros de Lair Ribeiro e Augusto Cury se enganou. Se você de fato quiser ganhar milhões em pouco tempo e morar em Dubai ou numa casa de praia em Malibú é melhor seguir a receita do “Mestre Cuca” Dan Brown.
Coloque dentro de uma vasilha, ou melhor, de um livro (que mais cedo ou mais tarde vai virar filme) um pouco de ciência, bastante religião, acrescente alguns fatos históricos “comprovados”, meia dúzia de enigmas pra serem desvendados e um crime misterioso (ou mais de um, de preferência que tenha ocorrido dentro de uma igreja ou num museu; as bibliotecas também servem).
As bibliotecas sempre serviram pra esse tipo de receita. Lembra de “O Nome da Rosa”? Biblioteca, igreja, enigma... “Mudaram as estações, nada mudou”. Se a biblioteca for à do Vaticano melhor ainda, o mundo inteiro tem um fetiche por aquele sacro recinto, uma espécie de impressão de que a memória da humanidade se encontra ali (e em parte isso é verdade).
Quanto aos enigmas é bom que estejam relacionados à data do fim do mundo ou a identidade do filho que Jesus Cristo nunca teve. Juízo final é uma daquelas coisas que ninguém deseja ver, mas gostaria de saber tudo sobre ele; quanto ao filho de Jesus Cristo, assim como a “Última Tentação de Cristo”, só existe na cabeça dos maníacos sexuais pós-modernos!
Após levar ao fogo, quero dizer antes de levar ao povo, acrescente também alguma história fantástica sobre a maçonaria ou alguma ordem religiosa cristã medieval (a Opus Dei e a Ordem dos Templários sempre funcionam). Depois disso coloque uma pitada de sensualidade (cuidado para não exagerar nesse ingrediente).
Cozinhe tudo em banho-maria e quando ficar encorpado acrescente cenas solenes que representem o poder da Madre Igreja e os muitos protocolos do Vaticano (guarda suíça serve). Não esqueça dos conclaves, sem eles o preparo fica sem sabor. Cardeais vestidos de vermelho e anéis com grandes pedras brilhantes fazem parte da receita desde o tempo dos Bórgias.
Não se esqueça também dos grandes prédios, catedrais góticas de preferência, e dos caminhos subterrâneos que não levam a lugar algum. Aliás, o Dan Brown é especialista em abrir caminhos desse tipo, ou seja, que não levam a lugar nenhum, ou será que levam? Levam sim, ao próximo livro que ele vai lançar e aos próximos milhões que irão engordar a sua já obesa conta bancária (soli deo gloria!).
Cozinhe tudo no fogo alto, mexendo sempre até engrossar. Para que a receita fique mais saborosa misture numa pequena tigela a parte, quero dizer, num dos capítulos, algumas heresias já consagradas que se relacionem com os sete primeiros concílios ecumênicos (começando sempre por Nicéia em 325 d.C.) e um pouco de tecnologia hightech. Não se esqueça também dos homens de óculos escuros e do cientista especialista em simbologia que sabe mais do que o próprio Deus.
Por último, o ingrediente sem o qual a receita do mestre cuca Dan Brown não teria sabor algum: a desaprovação da Santa Sé. Sem isso não existiria código secreto algum ou muito menos anjos, demônios ou quaisquer outras criaturas de natureza espiritual. Se o Vaticano não desaprovasse as obras de Dan Brown dificilmente as livrarias precisariam pedir novas remessas de livros às editoras e as filas para comprar as entradas do cinema não seriam tão longas.
Sempre que a Igreja desaprova qualquer filme as pessoas correm aos milhares para assisti-lo (êta, povinho desobediente e incrédulo) Por esse motivo acredito que o famoso escritor faz questão de manter uma certa “inimizade” com a Santa Sé, desse modo a venda dos seus livros se reveste de um caráter sobrenatural que garantirá boas vendas até a consumação dos séculos. Amém!
Em suma, para quem achava que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana havia perdido sua influência sobre o nosso mundinho confuso e poluído com a chegada da pós-modernidade enganou-se. Aliás, foi num mundo assim, confuso e caótico, refiro-me ao assolado império romano de Constantino, que surgiu a Igreja que posteriormente dominou a Europa Ocidental durante toda a Idade Média.
A vida e a morte, os discursos morais e políticos, a pobreza apostólica e a riqueza inefável, tudo, enfim, existe primeiro em Roma para depois materializar-se no mundo dos reles mortais (desculpe-me o platonismo). Tudo isso me faz lembrar uma antiga expressão usada pelos pais apostólicos: “Quem não tem a Igreja por mãe, não tem a Deus como pai”.

André Pessoa



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