PERDOE-ME, SOU TEÓLOGO

                Escrevo este texto para me desculpar com uma parcela dos meus leitores. É que tenho recebido ultimamente a sugestão de escrever mais sobre outros assuntos e não concentrar tanto os meus textos em questões que dizem respeito ao mundo religioso.

            Em uma das últimas mensagens que recebi de um leitor sugerindo que eu escrevesse mais sobre outros temas e menos sobre religião, o referido leitor (que não quis se identificar) afirmou que só de olhar já conhecia os meus textos acerca da religião. Perdoem-me meus amigos, é que eu sou teólogo!

            Nas linhas que se seguem eu tentarei explicar de forma clara e objetiva o que é um teólogo; refiro-me a um verdadeiro teólogo e não a alguém que tem curso de Teologia (o diploma não produz o ofício). Sei que esta tarefa não é fácil, pois ser teólogo no mundo capitalista parece algo muito exótico e desprovido de sentido, contudo, tentarei.

            Teologia é, etimologicamente falando, o estudo, a teoria ou a explicação racional das coisas referentes às divindades (ou a Deus) e a tudo que com elas se relaciona, seja sobrenatural ou não. Portanto, já de início, vê-se que a tarefa de um teólogo não é fácil: falar sobre Deus em um mundo que só pensa em si mesmo.

            A Teologia, ao contrário do que pensam alguns, não é um discurso irracional sobre mitos e divindades que não fazem mais qualquer sentido no século XXI. Pelo contrário, a Teologia, ainda que implicitamente, está presente em tudo uma vez que boa parte dos nossos valores teve origem em ideias de cunho religioso.

            Além disso, a Teologia é uma espécie de mistura de tudo (religião, sociologia, filosofia, história e outras coisas mais). Ou seja, a teologia é bastante abrangente e os seus horizontes se ampliam e acompanham o homem na sua busca por aquilo que ainda não sabe o que é.

A Teologia é a síntese de todas as ciências humanas acrescida de um elemento sobre-humano que projeta-nos na eternidade, coloca-nos em contato com a inteligência pura e com a força que move todas as coisas. Ela nos conduz em outra direção, ignorada e desprezada por aqueles que se julgam ricos, mas que estão imersos na pobreza do nada.  

            Entretanto, não culpo as pessoas de hoje por não se inclinarem como deveriam as questões teológicas, pois os poucos teólogos que ainda andam por aí, em sua maioria são fanáticos religiosos que de pensadores e de racional não possuem quase nada. A Teologia, ou aquilo que hoje chamam de Teologia, não passa de moralismo religioso de baixa qualidade.

            O verdadeiro teólogo, entretanto, é um homem indelevelmente marcado, conquistado e abduzido pelo sagrado não tendo mais vontade própria. O teólogo, para que vocês possam entender-me melhor, vê todas as coisas, economia, ciência, arte, política, apenas como meio para falar de Deus e do que lhe diz respeito.

            Quanto a mim, respiro Teologia, produzo Teologia, vivo pela e para Teologia. Caso fosse necessário, eu trocaria de boa vontade e sem qualquer tipo de murmuração, tudo o mais pelo simples prazer de teologar, navegar nas águas impenetráveis do incomensurável, dirigir o meu pensamento àquilo que se projeta para além de mim.  

            Portanto, caro leitores, perdoem-me por ser teólogo (não somos nós que escolhemos isso, mas isso nos escolhe). De qualquer forma, a partir de agora  procurarei escrever mais sobre outros temas, ainda que toda vez que eu estiver falando de qualquer outra coisa, esta será apenas uma forma de alcançar aquilo que repousa em um lugar mais alto  do que a Terra.

André Pessoa